Um dos
gênios máximos do cinema italino e mundial, o mais pitoresco
na biografia do cineasta
foi o
modo inusitado através
do qual ele chegou ao cinema - a moda. Apresentado a Jean
Renoir no início
dos anos 30 pela estilista Coco Chanel, de quem era amigo,
foi contratado como figurinista, depois cenógrafo
para, finalmente, trabalhar como assistente de direção
no filme Une Partie de Campagne, em 1936.
De volta
a Itália
em 1942, Visconti rodou o seu primeiro filme, Obssessão.
Este filme é uma
das obras inaugurais do neo-realismo, e frequentemente adotado
por Visconti
entre suas principais obras.
Inspirado
em uma música de Bruckner, Visconti juntou
a sua percepção para a ópera no cinema,
criando um espetáculo de rara beleza: Sedução
da Carne (1954), considerado por muitos críticos
a sua obra-prima. Esse filme torna visível a posição
de extrema importância que as artes ocupam em seus
filmes. Basta ver Morte em Veneza (1971), do livro
homônimo
de Thomas Mann, no qual Luchino misturou música, literatura
e outras artes, para se ter uma prova concreta disso. Adaptou
ainda obras de grandes escritores como Dostoievski, Marcel
Camus, Gabriele D'Annunzio, entre outros. Mas morreu (1976)
sem realizar o sonho de filmar Em Busca do Tempo Perdido,
de Marcel Proust, cujo roteiro deixou escrito.
Sem abandonar
totalmente o neo-realismo, Visconti filmou os sempre presentes
na lista dos maiores clássicos do cinema, Rocco
e Seus Irmãos (1960) um drama
familiar protagonizado pelo jovem Alain Delon narrando
a má sorte
dos muitos que se aventuraram da campo para a cidade em
busca de melhores
condições de vida, e O Leopardo (1963),
épico sobre a crise existencial e as transformações
sociais da sociedade italiana.
Ossessione
(1943)
Itália,
1943, no miserável Vale do
Pó, Giovanna (Clara Calamai), a frustrada dona de
uma pensão, planeja com o amante Gino (Massino Girotti,
de Teorema) o assassinato do marido.
Foto
Osseione (1943)
Clique na imagem para amplia-la
Obsessão
marca a estréia do grande Luchino Visconti como
diretor. Adaptação não autorizada
de O Destino Bate à sua Porta, romance noir de James
M. Cain filmado outras vezes, uma delas com Jack Nicholson
e Jessica
Langer; este clássico é considerado por
muitos críticos o marco inicial do influente
movimento neo-realista. Foi filmado quase
que inteiramente
em locações reais e afrontou
a ideologia do regime fascista.
Gattopardo,
Il (1963)
De toda
sua extensa e rica filmografia, talvez a obra que mais
resume suas obsessões seja O Leopardo. Adaptado
do romance de mesmo nome, de autoria de Giuseppe Tomasi
di Lampedusa, publicado postumamente, Visconti viu na história
do Príncipe Fabrizio Salinas a sua própria
história. Filho de um aristocrata e consciente da
chegada dos novos tempos, simbolizado na proximidade do
novo século (ao qual ele não se via pertencer),
o diretor encontrou nas palavras de Lampedusa o seu elemento.
Fez sua fita mais pessoal e apaixonada.
Visualmente, O Leopardo não poderia ser mais belo.
Visconti era um esteta. Todos os planos são milimetricamente
pensados, a posição da câmera, os gestos.
Além disso, o diretor, como de hábito, contou
com sua equipe de trabalho de confiança: Giuseppe
Rotuno na fotografia; Maria Garbuglia no desenho de produção;
Piero Tosi nos figurinos (indicados ao Oscar); e Nino Rota
na partitura musical (uma de suas mais belas composições).
Em suas respectivas pastas, todos contribuíram para
o primor visual da fita. Em tempo: O Leopardo foi laureado
com o Palma de Ouro no Festival de Cannes daquele ano.
Fotos
Gattopardo, II (1963)
Clique na imagem para amplia-la
Gattopardo, II (1963)
Clique na imagem para amplia-la
Rocco
e i suoi fratelli (1960)
A
viúva Rosaria Parondi (Katina Paxinou) migra para
Milão com os
cinco filhos fugindo da miséria. Os irmãos Simone (Renato Salvatori)
e Rocco (Alain Delon) reagem de formas diversas ao impacto da metrópole.
Oportunista
e ambicioso, Simone sente-se atraído pelo submundo e torna-se
popular como boxeador, enquanto Rocco tenta preservar seus valores e sua origem. Simone
se apaixona pela prostituta Nadia (Annie Girardot), que o ignora e acaba cedendo
aos encantos do sensível
Rocco. O confronto entre os irmãos é inevitável,
assim como o destino trágico. Em uma das cenas inesquecíveis
da história do cinema, Simone espanca Rocco e estupra
Nadia diante do irmão. Parece só parece haver
redenção para Ciro (Max Cartier), que se torna
operário de uma fábrica de automóveis.
Roberto Rossellini
Nascido
em uma família abastada, Rossellini interessou-se
por cinema por influêcia do avô, proprietário
de uma casa de espetáculos. Começou sua
carreira realizando alguns curtas. Durante o fascismo,
ingressou
na indústria cinematográfica italiana,
como assistente de direção. Trabalhou como
supervisor de alguns filmes, dentre eles L'Invasore,
de Nino Giannini,
e Benito Mussolini, de Pasquale Prunas.
Seu
grande momento veio no final da Segunda Guerra Mundial,
quando produziu dois filmes consagrados, Roma, città aperta (1945,
Prêmio de Melhor Filme do Festival de Cinema
de Cannes) e Paisà (1946)
Rossellini and Ingrid Bergman
Em
1963, Rossellini escreveu o roteiro de Les Carabiniers (Tempo
de Guerra), de Jean-Luc Godard. Seus últimos
trabalhos datam da década de 60, onde o cineasta
trabalhou para a televisão educativa. Em 1977, aos
71 anos, Rossellini sofreu um ataque cardíaco e
faleceu.
IL
GENERALE DELLA ROVERE (1959)
Durante a Segunda Guerra Mundial,
Emanuele Bertone é capturado pelos nazistas e condenado à morte,
após se fingir de coronel do exército italiano.
Para se livrar da pena, ele é obrigado pelos alemães
a se passar pelo general Della Rovere, líder da
Resistência, para se infiltrar e descobrir os inimigos
do Reich.
Francesco,
giullare di Dio (1950)
Francisco,
Arauto de Deus traz a visão genial de Rossellini
sobre a vida de São Francisco
de Assis. Num registro
intimista que prima pela simplicidade, o diretor mostra
a beleza dos ensinamentos de São Francisco e seus
irmãos, da época em que voltam de Roma, após
terem recebido do Papa o reconhecimento da Ordem, até o
momento em que se espalham pelo mundo para pregar a palavra
de Deus.
Vittorio
de Sica
Rossellini
era o teórico,
o realizador frio e formalista. Visconti, o esteta. E De
Sica, era puro
de coração, ia direto à emoção,
ao que o italiano tinha de mais espontâneo, mais humano,
era incomparável dirigindo amadores.
Foi
uma ponte entre o que havia de mais cru e pesado no neo-realismo
e o humor mais satírico e popular do que seria a chamada
Comédia à la Italiana.
Após
uma carreira como ator, a partir de 1940, passou a dirigir,
trabalhando quase sempre em
colaboração com
o roteirista Cesare Zavattini. O
primeiro filme mais empenhado deles é de 1943,
I Bambini ci Guardano. No pós-Guerra, a parceria ganharia
força. Juntos, realizaram algumas das maiores obras-primas
do movimento neo-realista (Ladrões de Bicicletas;
Milagre em Milão; O Teto; Umberto
D).
Neste
mês de Agosto chega ao Brasil um documentário
chamado Vittorio de Sica - Minha Vida, Meus Amores, em
que outros reconhecidos cineastas entre eles Clint Eastwood
e Woody Allen declaram a importância do diretor italiano.
Confira o trailer do filme
e trechos de outras produção
do italiano:
Vittorio
de Sica - Minha Vida, Meus Amores (2010)
Os Ladrões
de Bicicletas (1948)
Neste filme de Sica conta
a história
de Ricci, um italiano que após muita procura encontra
um emprego de colador de cartazes na rua. O problema é que
ele precisa ter uma bicicleta. Com muito esforço
ele e sua mulher Maria compram uma, mas logo ela é roubada.
Então, Ricci e seu filho Bruno passam a buscar a
bicicleta roubada.
Matrimonio
all'italiana (1964)
Marcello Mastronianni e Sophia
Loren estrelam a conturbada e cômica história de amor entre
Domenico e Filumena. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial
eles passam a morar juntos, mas sua história é cheia
de desencontros. Quando Domenico decide se casar com outra
mulher, Filumena finge estar morrendo e conta que tem três
filhos, dentre os quais um é do seu amado.
Umberto
D (1952)
O
filme marca o auge da relação
entre o diretor e Zavattini. Através
da trajetória de Umberto Domenico Ferrari é proposta
uma discussão sobre a velhice, o descaso e solidão
que envolviam as vidas dos idosos na Itália pós-guerra.
Considerado
por muitos o último grande
exemplo do neo-realismo, Umberto D., tal como os restantes
filmes da trilogia, foi criticado na sua terra natal pela
sua visão negativa da realidade italiana e revelou-se
um fracasso de bilheteira. No entanto, o filme foi aclamado
internacionalmente, e ganhou diversos prémios
internacionais e uma nomeação para o Oscar
de melhor roteiro.
Miracolo
a Milano (1951)
Mulher adota um bebê abandonado em
sua horta. Depois de sua morte, o garoto é enviado
para o orfanato. Ao completar 18 anos, Totó (Francesco
Golisano) vai para Milão, onde passa a morar num
terreno ocupado por miseráveis, mudando a vida de
todos com sua bondade. Após descobrirem petróleo,
os moradores são ameaçados pelo proprietário,
que manda a polícia desocupar o local. Quando tudo
parece perdido, Totó recebe uma ajuda dos céus,
começando a fazer muitos milagres. Palma de Ouro
de Melhor Filme em Cannes.
Fontes:
Bravo Online; E.Pipoca; Rubens Ewald Filho; Cult Movies;
Chambel.ne; Net Movies; Adoro CInema; Nostalgiabr; Régis
Trigo ( Cine Players ), DVD Versatil; Luiz
Carlos Merten