A
segunda edição do festival aconteceu nos
dias 12, 13 e 14 de novembro em Paulínia, no "Distrito
de Sustentabilidade", São Paulo. E contou
com mais de 70 atrações de diversos gêneros
do Rock, Pop, Hip Hop, numa área de 1.700.000
metros quadrados.
O
impressionante concerto de Peter Gabriel
Aparentemente
mais apropriado para uma Sala Sao Paulo do que o palco
de um festival, o impressionante concerto de Peter Gabriel
e a New Blood Orchestra começou com uma versão
de Heroes, de David Bowie.
Grata
surpresa foi o comportamento da plateia no início
da apresentação, que se esforçou
para permanecer em silêncio, à exceção
de alguns deslocados assovios e gritos de vendedores
ambulantes, enquanto eram executadas adaptações
de cançoes da carreira solo de Gabriel, .
No
entanto, o próprio cantor fez questão de
deixar todos à vontade para se sentirem em um
show que se justifica pelo rock, e pediu palmas no ritmo
de San Jacinto, do álbum Security (1982).
Quase
cinquenta instrumentistas tocaram sob a regência
do também britânico Ben Foster, que arranjou
as versões ao lado de Gabriel. John Metcalfe também
colaborou com os arranjos, e ao vivo faz as vezes de
spalla.
Engajado
em causas humanitárias desde jovem, o artista
introduziu a maioria das músicas em um ótimo
português, explicando a história de faixas
de protesto como Biko, que narra a luta do ativista anti-apartheid
assassinado pelo governo sul-africano no final da década
de 70.
O
ex-vocalista do Genesis ainda alcança tons agudos
sem nenhuma dificuldade, e a dramática e poderosa
exibição no palco principal recompensou
qualquer fã de música não-portador
de um transtorno de déficit de atenção.
Ao
final do show, a inusitada entrada de Didi Wagner sobre
o palco se justificou por um bonito motivo. A apresentadora
serviu de porta-voz para uma mensagem que extrapolava
o português ensaiado de Gabriel. Após explicar
a violenta ação do grupo insurgente Lord’s
Resistance Army (Lra), que atua em Uganda e outros países
da África Central recrutando crianças para
o combate em guerras civis, Didi entregou o microfone
de volta ao cantor.
As
luzes se acenderam e Gabriel instruiu a plateia a berrar “volte
para casa” na língua nativa de Uganda, momento
que foi gravado pela produção do show e
que, de acordo com o artista, será apresentado
para as crianças do país em uma tentativa
de demonstrar solidariedade e a confirmação
de que, do outro lado do Atlântico, pessoas estão
cientes das atrocidades cometidas.
O único
ponto negativo fica para o bate-estaca proveniente da
tenda eletrônica, que atravessou o festival e contaminou
os momentos mais reticentes do espetáculo.
Duran
Duran ressucita o eletropop
Parecia
um show do pianista Liberace: paletós reluzentes,
camisas de pele sintética de oncinha, cabelos com
muita escova, acaju com mechas, mechas com laquê e
Grecin 2000. Com esse arsenal e um bocado de autoironia
(além da performance perfeccionista do vocalista
Simon LeBon), o grupo Duran Duran recolocou o velho eletropop
na ordem do dia no segundo dia do SWU Festival. Para além
da nostalgia, mostrou o potencial de diversão e
pista de seus antigos e novos hits, como All You Need is
Now. Teclados (Nick Rhodes) e baixo (John Taylor) característicos
dos velhos sucessos de rádio dos anos 1980.
O Duran
Duran entrou logo após o último lamento de
Chris Cornell, que fez show longuíssimo e arrastado
no palco à sua frente. A primeira música,
Planet Earth, foi só um cartão de visitas
do Duran Duran e sua farra protoeletrônica, um reclame
da new wave inglesa e seu tempo de eficácia e diversão.
Logo a seguir, veio A View to a Kill, tema de abertura
do filme 007 Na Mira dos Assassinos, um carro-chefe matador
da pulsão do vocal e do baixo combinados do Duran
Duran.
Pouco
antes de tocar The Reflex, LeBon foi até o meio
do público e pediu um voluntário homem para
cantar um refrão consigo. Não era bem um
refrão, mas alistou-se um garoto chamado Michael,
que iniciou um dos belos duetos de Simon com sua vocalista
de apoio Ana, fenomenal.
O show
do Duran Duran virou um ato francamente Gaiola das Loucas,
um rasante vertiginoso pelo som de boates decadentes e
mestres de cerimônias divertidos. O público
entendeu e caiu na farra com hits como Wild Boys, Come
Undone, Hungry Like the Wolf e Notorious.
Lynyrd
Skynyrd encerra segundo dia de SWU
O Lynyrd
Skynyrd encerrou o segundo dia de SWU com clássicos.
Boa parte do público já havia ido embora
quando a banda subiu ao palco, abrindo o show com Workin’ For
MCA.
As consagradas
Simple Man, T For Texas, Sweet Home Alabama e Freebird – esta
numa versão de 12 minutos no encerramento do show – foram
recebidas com entusiasmo por aqueles que esperaram até o
fim.
Também
fizeram parte do setlist I Ain’t The One, What’s
Your Name, Down South Jukin’, That Smell, I Got The
Same Old Blues, I Know a Little, Simple Man, Gimme Three
Steps e Call Me The Breeze. O repertório incluiu
apenas uma música do disco mais recente da banda
(God & Guns, 2009), Skynyrd Nation.
Sonic
Youth faz final apoteótico em possível último
show da banda
A banda
Sonic Youth fez aquele que pode ser o último show
de sua carreira - o casal Kim Gordon e Thurston Moore anunciou
sua separação há um mês. A apresentação
teve o experimentalismo de sempre, sem esquecer de hits
como "Sister" e "Sugar kane". O destaque
ficou para o final apoteótico e emocionado dos integrantes,
com um mar de distorção que trouxe uma ponta
de melancolia para os fãs do grupo de Nova York
pelo chance de aquele ser o capítulo final do grupo.
"Senhoras
e senhores, nós somos o Sonic Youth. É um
prazer enorme estar de volta ao Brasil com nossos irmãos
e irmãs brasileiros", resume Thurston Moore,
segundos antes de começar a cantar "Schizophrenia",
já no meio do show. O público, debaixo de
chuva, estava ansioso e já cobrava a presença
deles bem antes do horário previsto para a apresentação.
O show
trouxe músicas conhecidas de diversos momentos da
carreira: "Death valley 69", de "Bad moon
rising" (1985), "Sister", da disco de mesmo
título de 1987, além de "Drunken butterfly" e "Sugar
kane", de "Dirty" (1991), álbum que
surfou na onda do grunge (mesmo sem pertencer ao gênero)
e se adequa ao clima de nostalgia pelos anos 90 do terceiro
dia de SWU.
O tom
emocional pelo "futuro incerto" (palavras de
um comunicado oficial) do Sonic Youth ficou nas entrelinhas.
Thurston Moore chegou ao palco brincando com o baterista
Steve Shelley. Este exibiu a mesma empolgação
adolescente durante a execução de cada música.
Lee Ranaldo também parecia de bom humor. O baixista
Mark Ibold (originalmente do Pavement e que se uniu depois
ao quarteto) ficou mais atrás, discreto, como é de
costume.
Kim Gordon,
em um vestido todo vermelho, exibia a carranca conhecida.
No telão era possível ver que já não
era mais a musa indie dos anos 80 e 90, mas que ainda conservava
o charme. Ela não se comunica com o público,
não mostra emoção. E era impossível
não recordar da atual situação da
banda e matrimonial quando em "Flower" ela cantava "P...!
A palavra é amor".
A apresentação
teve o experimentalismo do estilo do Sonic Youth, provavelmente
incômodo para os metaleiros que esperavam pela apresentação
do Megadeth na sequência do palco. Mas quem admira
a banda sabe que fazia sentido o "barulho" daquilo
tudo, construído sob inspiração da
música de vanguarda do século 20 e dentro
do espírito punk. Em um determinado momento, Thurston
tenta fazer música esfregando a guitarra em cima
da câmera de TV, o que trouxe tanto um belo efeito
sonoro como uma imagem curiosa no telão do SWU.
Sonic Youth SWU 2011
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Logo
no final, com "Teenage riot", Thurston Moore
agradece a presença do fãs que lotaram o
palco Consciência e diz que espera vê-los novamente
- criando no público a esperança de que a
banda não acabe após a separação.
No final
do clássico que abre o disco "Daydream nation" (1988)
acontece o momento mais bonito da apresentação,
quando microfonia e distorção saem da fricção
das guitarras de Moore e Ranaldo e do baixo empurrado por
Kim Gordon contra o amplificador. Com o barulho ainda ressoando,
a baixista deixa o palco rapidamente, mas o ex-marido se
senta e observa a plateia, talvez pela última vez
ao lado desses colegas.
Com figurino branco e coro de Heliópolis, Faith No
More encerra terceiro e último dia do SWU dedicado à década
de 1990
Em pouco mais de uma hora o Faith No More
--metade delas debaixo de chuva-- resgatou toda a carreira
e energia da
banda que marcou a década de 1990. Do início
da instrumental "Woodpecker From Mars" --com um
trecho de "Delilah", de Tom Jones-- ao final do
terceiro bis com a bonita versão da balada "This
Guy's in Love with You", de Burt Bacharach, tudo se
resume a uma apresentação enlouquecida.
Diversos
momentos ensurdecedores do show foram impulsionados por clássicos
como "Caffeine", "Surprise!
You're Dead", "Midlife Crisis" e "King
for a Day... Fool for a Lifetime", quando Patton roubou
o lugar de um câmera e passou a filmar a plateia para,
em seguida, ir cantar nos braços dos fãs. Em "Just
A Man", dezenas de crianças do Coral da Gente,
de Heliópolis, entrou no palco para se juntar à voz
de Patton. De fora ficaram hits como "RV", "Collision" e "Falling
To Pieces", entre outros tantos espalhados pelos seis
discos lançados pela banda.
Faith no More SWU 2011
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Mike Patton é mesmo a mola propulsora do Faith No
More: carismático, cheio de caras e bocas e falando
um português cheio de sotaque. Mas o show não é só dele.
A banda igualmente competente e impecável --formada
por Mike Patton (vocais), Roddy Bottum (teclados), Bill Gould
(baixo), Jon Hudson (guitarra) e Mike Bordin (bateria)--
aproveita cada espaço do palco para ir à frente
e não deixar o público na mão, quando
o vocalista se sente exausto. E, numa relação
de troca, a plateia faz a sua parte cantando refrões-hinos
como os de "Last Cup of Sorrow", "Epic" e "Ashes
To Ashes".
Faith no More SWU 2011
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A garganta de Patton, já calejada,
impressiona ainda mais nos dias de hoje. Seja no rap de "Epic",
na balada "Easy" ou no berreiro pelo megafone
de "Land of Sunshine", a voz vigorosa do cantor
não perde o tom. Patton parece cantar suas músicas
como se fosse a última vez. Mas, na verdade, é o
sinal de uma banda que marcou os anos de 1990 e que passa
a década de 2000 sem querer ser esquecida.