Além
dos "alquimistas" relacionados abaixo, não se pode
esquecer o brilho de Jacques Arcadelt, Dés Pres na Renacença;
atravessando o Barroco com Bach e Haendel; seguindo pelo Classicismo,
nas obras de Haydn, Mozart, Nunes Garcia; caminhando para o Romantismo
através de Bruckner, Gounod, César Franck e Saint-Saëns;
até atingir o Modernismo, por meio de Penderecki e Amaral
Vieira.
Adam holding a spade in a 13th-century
rose window from the north transept of Lincoln Cathedral. Copyright
Gordon Plumb
Os pesquisadores divergem a respeito do que seja realmente
a música sacra. Geralmente ela é conceituada como
musicalidade não profana, criada para animar os sentimentos
humanos da natureza do sagrado e da espiritualidade. Vale lembrar
que uma canção ser composta por um autor religioso
não a transforma necessariamente em uma música sacra.
Assim sendo, embora toda musicalidade sacra seja de teor espiritual,
nem toda composição religiosa é uma canção
sacra. Ela deve ter uma aura de santidade.
Alquimistas
da Música
A Abadia
de São Galo – em Passos dos Alpes – era um dos
centros culturais mais importantes da Idade Média. Sua história
remonta até o ano de 720. Dentro de seus muros encontramos
os monges mais eruditos desse período.
Balbulus,
Notker (c.840 – 06/04/912)
Suíça, Saint Gall
Monge em Saint Gallen.
Adorna melismas aleluiáticos gregorianos com textos próprios
(tropos), escreve letras e compõe “Seqüências”
como corais independentes.
A Balbulus, atribui-se conhecimentos de teoria musical e também
uma melodia que, ainda hoje é cantada, geralmente na adaptação
de Martinho Lutero, e que se denomina “Media vita”.
Ela exprime exatamente a essência da vida monacal, isto é,
estar a morte sempre a espreita da vida; era a substância
do pensamento da Idade Média cujo único esforço
parecia voltar-se para o além. Naturalmente, o Canto Gregoriano
não podia exprimir outra coisa.
Balbulus, desanimado
ante a dificuldade de aprender os longos melismas de cânticos,
como os aleluiáticos, fez corresponder as melodias a textos,
de forma a tornar mais fácil a sua memorização.
Labeo,
Notker (c.950-28/06/1022)
Suíça, Thurgau
Monge beneditino, também
conhecido por Notker Teutonicus- o Alemão - compôs
o primeiro tratado sobre música, em língua alemã,
bem como um guia para a construção de tubos de órgãos.
Possuia cultura universal.
Traduziu autores latinos e gregos, como por exemplo Aristóteles,
para o alemão.
Arezzo, Guido von (992 – 1050)
Itália
Monge italiano, professor
e teórico da música, regente do coro da Catedral de
Arezzo, Toscana. Pioneiro da notação musical em intervalos.
Fundamenta a ordenação das linhas da pauta em terças
e a “Solmização” (mão guidoniana).
Batizou as notas musicais
com os nomes que conhecemos hoje, baseando-se em um texto sagrado
em latim do hino a São João Batista:
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Ioannes
Que significa:
Para que teus servos
possam ressoar claramente
a maravilha dos teus feitos
limpe nossos lábios impuros, ó São João.
A Guido d´Arezzo
é também atribuída a invenção
da Mão Guidoniana, um sistema mneumônico usado para
o ensino da leitura musical em que os nomes das notas correspondiam
a partes da mão humana.
O sistema de Guido d´Arezzo
sofreu algumas transformações no decorrer do tempo:
a nota Ut passou a ser chamada de dó para facilitar o canto
com a terminação da sílaba em vogal, derivando-se
provavelmente da proposta lançada por Giuseppe Doni, músico
italiano que escolheu a primeira sílaba do seu sobrenome
para essa nova denominação e a nota si – por
serem as iniciais de São João – novamente facilitando
o canto com a terminação de uma vogal.
Bingen,
Hildegard von (1098 – 1179)
Alemanha
Escritora,
poetisa, líder religiosa, diplomata e compositora, as realizações
de Hildegarda são notáveis e únicas para uma
mulher de sua época. Destinada à igreja por sua nobre
família, viveu anos na contemplação religiosa.
Sua correspondência com papas e imperadores mostra sua importância
política e diplomática, tendo escrito extensamente
sobre medicina, ciência e teologia.
Sua música
contemplativa e extática é composta de linhas homofônicas
de textos religiosos – não se trata de Cantochão,
mas de uma forma específica que explorava padrões
curtos variados e repetidos.
Sete hinos,
35 antífonas, a peça teatral sacra “Ordo Virtutum”
são atrubuídos a ela.
Leoninus
(ou Léonin) (c.1150 – c.1201)
França
A única referência escrita a um músico chamado
Léonin foi registrada mais de um século após
sua morte por um monge inglês anônimo, que o descreveu
como “o maior compositor de organum para amplificação
do serviço divino”. Professor, administrador e poeta,
Léonin tornou-se cônego na nova catedral de Notre-Dame
de Paris. Nenhuma música sua se conservou, mas atribui-se
a ele a criação do Magnus líber, o “Grande
Livro” de cânticos usado em Notre-Dame no final dos
anos 1100. O livro, mais tarde editado por Pérotin, assentou
as fundações da ideia de harmonia e escrita composicional.
Vogelweide,
Walther von der (1170 – 1228)
Baixa Áustria (?)
O mais importante dos trovadores (alemães), participante
do “Sãngerkrieg auf der Wartburg” (Concurso de
canto de Wartburg). Defende a canção trovadoresca
“alta” e “baixa”. Canção da
Palestina para as cruzadas. Foi também, um grande poeta.
Magnus,
Perotinus (Pérotin) (fl. c.1200)
França (?)
Sucessor
de Leoninus em Notre-Dame. “Optimus Discantor” (o melhor
compositor de discantos). Enriquece o “Magnus Líber”
de Leoninus com novas cláusulas em estilo de “discanto”.
O ritmo se torna independente da palavra (notação
modal).
Foi o primeiro
compositor conhecido de música com mais de duas partes independentes.
Foi uma figura frustrantemente sombria. É mencionado em documentos
do final do século XIII como quem editou e aprimorou o Magnus
líber de Léonin, o livro de música de Notre-Dame.
Provavelmente trabalhou com Philippe, o Chanceler, cujos textos
musicou – em obras como Beata víscera – e pode
ter composto no gênero emergente do moteto. Mas foi certamente
um pioneiro com suas partituras em quatro partes de textos latinos
mostrando alguns toques de modernidade.
Halle,
Adam de la (também Adam le Bossu, Adam the Hunchback)(1237
– 1287)
França
Trovador,
poeta e musicista da corte de Roberto II de Arras. Conservaram-se,
entre outros, 16 rondeaux a 3 vozes e 18 partes de jeux (teatro).
É considerado um dos principais precursores da comédia
francesa.
Machaut,
Guillaume de (1300 c. – 1377)
França
Clérigo
na Catedral de Reims. Representante principal da Ars Nova. Implantação
do sistema mensural em duas e três partes. “Messe”
de Notre-Dame, Motetos, Isoritmia.
Talvez
por se tratar de um padre, é surpreendente que Machaut seja
autor de tantas canções sobre amor não correspondido.
Seu desditoso amor por uma adolescente – a nobre Péronne
– inspirou sua música secular e sua poesia –
como por exemplo Le voir dit – e seu característico
estilo musical inclui melodias intrincadas e dissonância sombria.
Contudo, foi sua missa em quatro partes que determinou sua reputação
como compositor importante.
Ciconia,
Johannes (c.1370 – 1411)
Bélgica, Liege
Compositor
e teórico musical. O primeiro dos flamengos famoso. Muda
para a Itália (Canto em Pádua). Escreve motetos em
modo imitativo sem a base do cantus firmus (esquema harmônico
livre). Trabalhou a serviço das capelas papais e na Catedral
de Pádua.
Landini,
Francesco (1335 – 02/09/1397)
Itália, Tirol do Sul
Luthier,
compositor e organista na catedral de Florença, compôs
baladas a duas e três vozes (canções de dança)
para combinação mista de vozes e instrumentos. O mais
importante compositor do Trecento ou Ars Nova italiana.
Wolkenstein,
Oswald von (1377 – 02/08/1445)
Itália, Tirol do Sul
Compositor,
poeta e diplomata. “Último dos Minnesãnger”.
Escreve canções a 2 e 3 vozes. Linha vocal no tenor,
voz superior instrumental , textos próprios.
Minnesang
é um gênero literário cujas obras que nos foram
transmitidas através de códices datam da metade do
século XII até meados do século XIV e têm
origem em grande parte da região onde a língua alemã
se desenvolveu. Seus autores (e possivelmente também intérpretes)
eram chamados de Minnesänger e sua arte era voltada para a
classe nobre medieval, à qual a maior parte deles pertencia.
Dunstable,
John (também Danstaple) (1390-1453)
Inglaterra, Dunstable
Compositor
sacro inglês de música polifônica. Junta partes
litúrgicas do Ordinário da Missa com um tenor constante,
formando assim um ciclo. Missa L´Homme Armé, Missa
Rosa Bella.
Tão
grande era a fama internacional de Dunstable, tanto em vida como
em sua longa posteridade, que a ele foram atribuídas diversas
inovações de outros compositores ingleses.
Um século
após a sua morte, alguns escritores o rotulavam por engano
como “inventor do contraponto”. Dunstable foi um grande
expoente do novo estilo inglês, explorando intervalos de terça
e de sexta, e sua influência sobre músicos do continente
foi enorme. Muitas obras vocais possivelmente escritas por ele –
movimentos de missas para textos sagrados latinos, motetos fascinantes
e canções natalinas inglesas – se conservaram,
mas sua atribuição e datação são
difíceis, assim como a trajetória do compositor.
Dufay,
Guillaume (1397 – 1474)
Bélgica
Guillaume
Dufay, também Du Fay ou Du Fayt foi um compositor do início
do Renascimento, da escola franco-flamenga. Figura central da Escola
da Borgonha, considerado o mais famoso e influente compositor da
primeira metade do século XV e um dos nomes mais importantes
do período de transição da música medieval
para a renascentista. Guillaume Dufay representou a primeira geração
da Escola Borgonhesa. Seu modelo de missa polifônica, baseada
no cantus firmus, teve grande aceitação entre os músicos
até o final do século XVI.
Guillaume
Dufay aprendeu música como menino do coro da catedral de
sua cidade natal. Depois, foi chantre da capela pontifícia
em Roma, Florença e Bolonha (1435-1437), além de músico
do Duque de Sabóia. Há indícios de que, a partir
de 1445, teria fixado em Cambrai a sua residência principal,
fazendo, no entanto, numerosas, embora breves, viagens, principalmente
às cortes de Borgonha e Sabóia, a Turim e a Besançon,
no Bourbonnais.
A sua celebridade
foi então considerável, e a sua autoridade musical,
que exerceu uma influência benéfica sobre uma grande
parte da Europa. Como testemunho de admiração, os
personagens mais ilustres deram-lhe a sua amizade - Carlos, o Temerário
conta-se entre os seus legatários, bem como pensões,
prebendas e títulos lucrativos: foi cantor do duque de Borgonha,
cônego em Tournai, Bruges, Lausanne, Mons e, sobretudo, a
partir de 1435, em Cambrai (França).
Homem de
grande cultura, soube, ao longo das suas numerosas viagens, assimilar
as técnicas francesa, inglesa e italiana, para delas fazer
uma síntese surpreendente. Criou o modelo perfeito da missa
polifônica construída sobre um cantus firmus (tema
litúrgico ou profano que serve de base e fio condutor a toda
composição), modelo cuja fecundidade se manifestou
até o final do século XVI.
Escreveu
9 missas, entre as quais Se la face ay pale, L'Homme armé
caput, Ecce ancilla domini, Ave Regina coelorum, 35 fragmentos de
missas, 5 Magnificat, cerca de 80 motetos e hinos (sagrados ou profanos),
75 canções polifônicas francesas.
Binchois,
Gilles (também Gilles de Bin) (1400 – 1460)
Bélgica
Um dos
três grandes compositores do início do século
XV, ao lado de Dufay e Dunstable. De uma família de classe
média de Mons, treinou como corista e organista, tendo servido
como soldado e talvez visitado a Inglaterra antes de se juntar à
corte em Burgundy.
Não
foi um inovador e sim um grande melodista e sua música sacra,
ballades e rondeaux foram importantes na época. Pertenceu
à escola da Borgonha.
Mestre da
Canção burgunda. Compõe também Lieder
e Missas.
Ockeghem,
Johann (c.1414 – 1497)
Bélgica
Ockeghem
surge em 1443 como um novato compositor de música sublime
e criativa. Compositor do contraponto flamengo, sua obra foi composta
na corte francesa de Carlos VII.
Ocupou diversos
postos eclesiásticos, tendo mesmo se encarregado de delicadas
missões diplomáticas no exterior. Presume-se que foi
aluno de Dufay. Pertenceu à segunda geração
da escola franco-flamenga.
Mestre da
composição de cânones proporcionais e de charadas.
Numerologia do gótico tardio. Missa Prolationum.
Agricola,
Alexander (1445 ou 1446 – 15 de Agosto de 1506)
Bélgica
Compositor
franco-flamengo da música do Renascimento. Nascido Alexandre
Ackerman, filho ilegítimo de uma rica negociante holandesa,
Agricola foi um compositor internacionalmente popular na década
de 1490.
Trabalhou
em cortes e igrejas na Itália, França e Países
Baixos, sendo tão requisitado que podia ditar sua remuneração.
Tecnicamente, suas missas e motetos sacros, canções
seculares e peças instrumentais, influenciadas por Johannes
Ockeghem são típicos da época, mas o caráter
intenso e agitado de sua música era descrito por alguns contemporâneos
como "louco e estranho".
Pertencia
à primeira geração de cantores virtuoses que
se tornaram compositores bem sucedidos ao explorar o novo gênero
ao lado do compositor florentino Jacopo Peri. Em suas canções,
desenvolveu o estilo monódico que viria a ser um pilar da
era barroca.
Palestrina,
Giovanni Pierluigi da (c.1525 – 1594)
Itália
Era o mais
famoso representante da Escola Romana no século XVI. Palestrina
teve uma grande influência sobre o desenvolvimento da música
sacra na Igreja Católica Apostólica Romana.
Giovanni
Pierluigi da Palestrina nasceu, como o próprio nome indica
na Palestrina (arredores de Roma), por volta do ano de 1525. Seu
talento musical se manifestou no final da infância e começou
a estudar música em 1537, como pequeno cantor na escola da
Basílica de Santa Maria Maior. Retornou à sua cidade
natal por volta de 1544 como organista. Pierluigi não é
um segundo nome de batismo, e sim a primeira parte do duplo nome
(Pierluigi e da Palestrina).
Em 1550,
o bispo de sua cidade foi eleito papa com o nome de Julio III. Este
o convidou para segui-lo em Santo Soglio em 1551, onde foi nomeado
mestre da Capela Giulia e cantor da Capela Sistina. Para seu infortúnio,
o papa sucessivo, Paulo IV, demitiu todos os cantores casados ou
que houvessem composto obras de música profana (profana no
sentido de não religiosa), e Palestrina encontrava-se nas
duas categorias. Desta forma, abandonou o Vaticano, mas assumiu,
em seguida, a direção musical da Basílica de
São João de Latrão em 1555 e, sucessivamente,
da Basílica de Santa Maria Maior, em 1561. Em 1571, dirigiu-se
para São Pedro. Foi também grande seguidor de São
Felipe Neri.
Em 1580, após a morte de sua esposa, Lucrezia Gori, teve
um momento de crise mística e resolve consagrar-se à
igreja. Entretanto, sua vocação terminou rapidamente,
pois, pouco depois, casou-se com uma rica viúva romana, Virginia
Dormoli.
Palestrina foi um dos poucos e afortunados músicos de sua
época a ostentar uma brilhante carreira pública. Sua
fama foi reconhecida universalmente pelos colegas de seu tempo e
seus serviços foram requisitados por diversas autoridades
da Europa. Após sua morte, em 1594, Palestrina foi enterrado
na Basílica de São Pedro durante uma cerimônia
fúnebre que teve a participação de grande número
de musicistas e de pessoas da comunidade.
Não
houve compositor anterior a J.S.Bach tão prestigiado como
Palestrina, nem outro cuja técnica de composição
tivesse sido estruturada com maior minuciosidade. Palestrina foi
denominado "O Príncipe da Música", e suas
obras foram classificadas como a "perfeição absoluta"
do estilo eclesiástico.
Reconheceu-se
que Palestrina captou, melhor que nenhum outro compositor, a essência
do aspecto sóbrio e conservador da Contra Reforma numa polifonia
de extrema pureza, apartada de qualquer influência profana.
O estilo palestriniano pode ser reconhecido em suas Missas. A sua
índole objetiva, friamente impessoal, resulta extremamente
apropriada aos textos formais e rituais do Ordinário. Desde
logo a base do seu estilo é o contraponto imitativo franco-flamengo.
As partes
vocais fluem num ritmo continuo, com um motivo melódico novo
para cada frase do texto. Palestrina mostra o caráter que
vem associado ao gênio: plenamente consciente da sua capacidade
e forte popularidade, obtidos através de suas composições,
nunca foi forçado a aceitar encomendas desagradáveis
para sobreviver. Pelo contrário, soube fazer-se recompensar
generosamente por todos os seus protetores, de modo que o Vaticano
se viu obrigado a aumentar continuamente o seu salário anual,
para mantê-lo em Roma, por causa de tantas propostas que recebia.
Foi um
homem volitivo, mas com fortes impulsos que o levaram a súbitas
e surpreendentes escolhas, tais como o segundo casamento, celebrado
após receber ordenações religiosas menores.
Compositor prolífico, publicou muito em vida, e suas obras
não caíram no esquecimento; ao contrário, foram
sempre apreciadas como obras-primas da polifonia.
Obras
O "corpus
musicale" palestriniano foi escrito, preponderantemente, em
Roma e apenas para Roma, para uso principalmente litúrgico:
para a Missa e o Ofício. Uma boa parte de sua produção
aconteceu no período de seu último cargo na Basílica
de São Pedro no Vaticano. O orgânico vocal da capela
vaticana era, naquele tempo, mais vasto do que o de qualquer outra
igreja (em 1594 era composto, ao todo, de 24 cantores), mas não
se adotou o uso de instrumentos, com exceção do órgão.
A linguagem
polifônica de Palestrina não se distanciou tanto da
maneira tradicional dos mestres franco-flamengos (os nórdicos
foram os seus primeiros mestres em Roma). A arte contrapontística
de Palestrina se desenvolveu, sobretudo, em direção
à inteligibilidade da palavra e de uma sonoridade ordenada
de maneira a evitar a enunciação simultânea
de textos diversos.
No que
se refere ao desenvolvimento das linhas melódicas, é
evidente a influência do canto gregoriano. Neste sentido,
podemos dizer que o compositor aplicava as regras do Concílio
de Trento.
Na grande
quantidade de motetos palestrinianos, destaca-se, pela sua intensa
expressividade, o Salmo 137 Super Flumina Babylonis.
Entre os
compositores do círculo romano que conservam o rigor técnico
do contraponto de Palestrina, pode-se mencionar os seus discípulos
Giovanni Maria Nanino (1543-1607), Francisco Soriano (1548-1621)
e Felice Anerio (1560-1614). Pela alta qualidade da sua produção,
destaca-se, o espanhol castelhano Tomás Luis de Victoria
(1548-1611), enquanto, entre as maiores autoridades intérpretes
de Palestrina, ainda hoje em vida, destacam-se o maestro Domenico
Bartolucci (1917).
Católico
em terra protestante, a reputação de William Byrd
como compositor era tamanha que o livrou das sérias consequências
de manter sua fé sob a lei inglesa. As obras religiosas de
Byrd mostram uma refinada técnica contrapontística,
especialmente no uso da imitação. Seus anthems em
verso, motetos, canções de consort e peças
instrumentais são profundamente expressivos. Sua música
raramente mostra influência de seu mestre, Thomas Tallis.
Byrd talvez
seja mais conhecido por sobreviver no topo da sociedade na Inglaterra
protestante apesar de sua intensa – e pouco disfarçada
– fé católica. Seus patronos, que incluíam
tanto ricos católicos como a “Rainha Virgem”,
Elisabete I, encomendaram-lhe amplo leque de música para
serviços religiosos e usos domésticos. Afora sua música
anglicana, Byrd compôs e publicou diversas obras católicas
para serem executadas apenas em contexto doméstico. Sua produção
musical secular também foi grande, incluindo peças
do primeiro repertório importante para virginais.
Principais obras:
. Ave Verum Corpus – sequência
. Susanna Fair – canção
. Missa para quatro vozes – partitura de missa.
Desprez,
Josquin (1450 – 27/08/1521)
França, Beaurevoir (?)
Josquin
Lebloitte, dito Josquin des Prez ou Josquin des Prés, frequentemente
designado simplesmente como Josquin, foi um compositor franco-flamengo
da Renascença.
É
o compositor europeu mais célebre entre Guillaume Dufay (1397
– 1474) e Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525 - 1594) e
é geralmente considerado como a figura central da Escola
franco-flamenga e o primeiro grande mestre da polifonia vocal dos
primórdios do Renascimento.
No século
XVI, Josquin chegou a ser considerado o maior compositor da época.
O domínio da técnica e sua expressividade eram admirados
e imitados.
Sua música
incorpora influências italianas à formação
característica da escola flamenga. A combinação
de técnica e expressividade marca uma ruptura com a música
medieval. Josquin contribuiu para diversos gêneros, principalmente
motetos, missas e chansons francesas e italianas.
Mas foi,
sobretudo, nos mais de cem motetos que se mostrou mais original:
a suspensão é empregada como recurso de ênfase,
e as vozes ganham os registros mais graves nos trechos em que o
texto alude à morte. As canções também
são importantes na sua obra. Foi o principal representante
do novo estilo de meados do século XV, com formas musicais
menos rígidas. Certas canções mostram técnica
rebuscada, em ritmos vivos e texturas claras. A ampla difusão
de sua música tornou-se possível com a invenção
da impressão de partituras, no começo do século
XVI, e hoje sabemos mais sobre sua música do que sobre sua
vida.
Foi o primeiro
compositor renascentista considerado genial, superando as formas
tradicionais e dando novo tratamento às relações
entre texto e música. Mestre da polifonia e do contraponto
estendeu e aplicou sistematicamente o recurso da imitação
(repetição de um trecho musical por vozes diferentes).
Compositor
e cantor de talento muito apreciado pelos mais ricos mecenas da
Europa, incluindo a família Este, de Ferrara, Josquin foi
o primeiro compositor a ter impressos volumes inteiramente dedicados
à sua obra musical. Vários aspectos de sua biografia
são pouco documentados, sobretudo detalhes de sua infância
e educação. Um problema tem sido a atribuição
a Josquin de peças que não são suas. Seu estilo
musical exibe grande invenção melódica e domínio
de técnicas como o cânone, bem como uma inclinação
pelas canções populares.
Entre as obras mais famosas de Desprez, estão a missa Pange
lingua, o moteto Stabat Mater e a chanson Petite Camusette.
Janequin,
Clément (c.1485 – c.1558)
França, Châtellerault
Foi um dos
mais famosos compositores de chansons de toda a Renascença
e, juntamente com Claudin de Sermisy, teve forte influência
no desenvolvimento da chanson parisiense, principalmente da canção
programática. A grande divulgação de sua fama
foi possível graças ao desenvolvimento simultâneo
da imprensa de signos musicais. Educado como noviço, ocupou
vários postos mal remunerados, mas em 1530 sua canção
para celebrar a entrada de Francisco I em Bordeaux, firmou sua reputação
como compositor.
Compõe
“La bataille” em c.1515, canção que imita
o fragor da batalha e em 1530 a canção “Chantons,
sonnons, trompettes” a qual lhe traz a fama.
Willaert,
Adrian (c.1490 – 07/12/1562)
Bélgica, Bruges
Compositor flamengo, aluno de Josquin, mestre de capela em São
Marco, Veneza; missas-paródia, ricercare a 3 vozes (precursor
da forma da fuga), fundador da policoralidade veneziana e da Escola
de Veneza.
Taverner,
John (1490 – 1545)
Inglaterra
Taverner
exerceu grande influência na Inglaterra no século XVI,
tanto como compositor quanto como assessor de Thomas Cromwell –
conselheiro chefe de Henrique VIII que presidiu a dissolução
dos mosteiros.
É
provável que Taverner estivesse de acordo com o espírito
das reformas protestantes. Um documento registra sua vergonha por
ter escrito “cançonetas papais” – música
celebrando a Virgem Maria ou os santos cristãos – no
início de sua carreira.
Escreveu
oito missas ao todo.
Em 1515
compõe a Missa “Gloria tibi Trinitas” que se
tornou uma das mais populares linhas de cantus firmus para música
instrumental na Inglaterra, num gênero conhecido como “In
nomine”, em homenagem ao vocal original de Taverner. A ópera
Taverner, de Maxwell Davies, faz um relato popular da vida do compositor.
Em c.1540
compõe o “Magnificat à 4”.
Sachs,
Hans (05/11/1494 – 19/01/1576)
Alemanha, Nurenberg
Sapateiro
de profissão, percorreu a Alemanha como mestre cantor e se
tornou o mais conhecido deles. Autor de mais de 6000 poemas, escritos
no estilo popular burguês do meistersang (mescla de poesia
e canto religioso, cantada nas escolas gremiais do século
XV). São notáveis, também suas Farsas de Carnaval
(1517-1563) e seu hino O Rouxinol de Wittenberg (1523), dedicado
a Lutero.
Hans Sachs
se transformou em um personagem de uma ópera de Albert Lortzing
(1840) e em um dos personagens principais da ópera Die Meistersinger
Von Nürnberg (Os cantores de Nurenberg), de Richard Wagner.
Escreveu
mais de 2000 ditados e peças teatrais.
Gabrieli,
Andréa (c.1532 – 30/08/1585)
Itália
Compositor
e organista veneziano na Basílica de São Marco, mestre
da policoralidade: 8, 12 e até 24 vozes (“coro spezzato”).
Tio do
compositor Giovanni Gabrielli, foi o primeiro membro renomado da
Escola Veneziana de Compositores e foi extremamente influente na
propagação do estilo veneziano na Itália e
na Alemanha.
Deixou
numerosas composições de música sacra –
motetos, salmos, missas, um Glória a 16 vozes – e profana
– quase 250 madrigais. Dentre suas composições
monumentais, mencionamos as tocatas para órgão, canções,
ricercari, peças mistas instrumentais e vocais, salmos penitenciais.
Rore,
Cipriano di (1515 – 1565)
Bélgica, Ronse
Compositor
franco-flamengo, sucessor de Willaert na Basílica de São
Marcos em Veneza. Juntamente com Willaert é o fundador da
escola veneziana da policoralidade. Compôs madrigais, motetos,
missas. Tornou-se conhecido, principalmente, por seus madrigais
italianos.
Ortiz,
Diego (c.1510 – c.1570)
Espanha, Toledo
Compositor
espanhol e professor de instrumentos, trabalhou para a corte de
Nápoles. Escreveu dois livros de música: Trattado
de Glosas, em 1553 e Musices líber primus, em 1565.
O “Tratado
de Glosas”(1553) é considerado uma obra prima sobre
a viola da gamba. Foi publicado em 10/12/1553 em Roma, sob o título
em espanhol “Trattado de glossas sobre clausulas y otros generos
de punctos em la musica de violones nuevamente puestos em luz”.
Musices
líber primus é uma coletânea de música
religiosa polifonica, publicado em Veneza em 1565, sob o título
“Musices líber primus hymnos, Magnificas, Salves, mocteta,
psalmos”. É composto por 69 obras para 4 a 70 vozes,
baseadas no cantochão.
Bibliografia:
. Wikipaedia.com
. História Universal da Música , Kurt Pahlen –
Ed.Melhoramentos
. História da Música Ocidental, Donald J.Grout e Claude
V.Palisca – Gradiva