Madeleine
inesquecível
Madeleine
Peyroux enumera as coisas “maravilhosas” das quais
se lembra de sua primeira turnê pelo País, em
2005. O primeiro item da lista: “Me levaram a algumas
cachaçarias maravilhosas”, disse de bate-pronto,
em entrevista ao Estado por telefone de sua casa, no Brooklyn,
em Nova York.

HOLLYWOOD,
CA - 09 Nov 2006 Email this image Rate this image
Madeleine Peyroux
(Photo by Vince Bucci/Getty Images)
Desta
vez, a mais festejada e bluesy cantora de jazz da atualidade
vai rodar o País e terá chance de conhecer mais
e melhores cachaçarias. Por exemplo: dia 14 de setembro,
estará em Ouro Preto e, no dia seguinte, canta em Diamantina,
Minas Gerais, terra das melhores casas do ramo. Depois, Madeleine
passa pelo Rio (RJ), dia 26; Brasília (DF), dia 22;
Porto Alegre, dia 26. Em São Paulo, tocará no
Via Funchal, no dia 18, e volta à cidade para shows
intimistas no Bareto, nos dias 27, 28 e 29. No dia 2 de outubro,
fecha a turnê em Salvador (BA). “Tive boas surpresas
em todos os shows no Brasil. Depois dos concertos, era uma
celebração, todo dia havia diferentes coisas
para fazer, a gente saía na noite pelas cidades onde
tocávamos. Desta vez, espero ter mais tempo para conhecer
mais.”
São
muitos os sinais que mostram que a cantora está com
fôlego e disposição redobrados, além
do grande número de concertos desta turnê brasileira.
Por exemplo: ela levou 8 anos para gravar seu segundo disco,
"Careless Love" (2004). Agora, a menos de um ano
do último lançamento, "Half the Perfect
World", lançado em setembro do ano passado, ela
já prepara febrilmente novo trabalho.
“Depois
do Brasil, entre outubro e dezembro, estarei trabalhando em
estúdio no meu novo disco, que será lançado
provavelmente no começo do ano que vem. Estou muito
animada com esse novo trabalho, vou tentar algo completamente
diferente desta vez. De certa forma, "Half the Perfect
World" (2006) foi um passo que eu dei em direção
a esse novo som. Vou trabalhar com mais canções
originais do que tenho feito ultimamente. Mas ainda é
prematuro dizer como será o trabalho, eu mesma não
sei”, afirmou a cantora.
Madeleine
parece ter decidido que sua profissão de fé,
mais do que gravar discos, é correr o mundo. Como Milton
Nascimento, ela acha que o artista tem de ir aonde o povo
está. “Gasto a maior parte do meu tempo viajando,
em turnês. Acho tão fabuloso isso. Sou grata
e feliz. Claro, às vezes me canso, às vezes
também fico assustada e daí tenho de dar uma
parada. Mas eu entendo que a música é uma forma
artística que se realiza quando você a leva às
platéias. É um trabalho duro, muitas vezes.
Mas, em outras palavras, trata-se de estabelecer um diálogo
entre o artista e o público, você aprende sobre
você mesma, sobre as pessoas. Minha inteira existência
é relacionada com a música. Não quero
ir ao Brasil como turista, prefiro ir trabalhando. Há
tanto para aprender, tanta música aí, tanta
gente interessante.”
Mais do
que as freqüentes comparações com Billie
Holiday, que parecem ter ficado para trás, as análises
do trabalho de Madeleine agora focam em suas preferências
como intérprete. Ela gravou Tom Waits, Joni Mitchell,
Randy Newman e Leonard Cohen, e ainda canta, em seus shows,
coisas como Between the Bars, de Elliott Smith.
“Canto
autores que, apesar de fabulosos, não são tão
reconhecidos na América. São contemporâneos,
mas não têm o reconhecimento que merecem. Mas,
mais ainda do que mostrar habilidade em cantar canções
que não foram tão cantadas antes, eu tenho interesse
em destacar aquilo que realmente importa no Great American
Songbook. Esses cantores nos mostram o que nós perdemos,
nos lembram o que significa integridade, honestidade, entrega”,
ela diz.
Americana
filha de mãe francesa, cantou em Paris no início
da carreira e aquele repertório da chanson française
incorporou-se ao seu estilo - sempre há canções
do gênero em seus shows, como J’ai Deux Amours,
sucesso de Josephine Baker.
Madeleine
adorou ouvir um pouco sobre a história de Ouro Preto,
em Minas, das igrejas construídas pelos escravos. “Nossos
países, Estados Unidos e Brasil, foram colonizados
ao mesmo tempo. Há muita história, muito legado,
que nós desconhecemos uns dos outros”, diz. “Houve
um dia no Rio em que me senti muito estranha. Era uma sensação
de que havia algo na cidade muito similar e ao mesmo muito
diferente dos Estados Unidos. Um dia, peguei um táxi
e saí para dar um passeio sozinha pela cidade, passei
pelas favelas.” Também foi ver um show do sambista
Martinho da Vila, e acabou gravando com ele a canção
Madeleine I Love You, uma versão de Madalena do Jucú.
“Ainda não ouvi a canção. Ele não
me mandou o disco. Como ficou?”, ela pergunta.
“Ficou
bem engraçada, Madeleine.” Ou não? Eu
vou levar a Madeleine/Pra ouvir tambor de congo/Lá
na Barra do Jucú/Madalena Madalena/Você é
meu bem querer/I wanna tell the world I love you.
“Quando
encontrei Martinho, no Rio, ele me convidou para seu show
e eu fui. E ele dedicou uma canção para mim,
fizemos amizade, tentei sambar. Não sou exatamente
uma sambista muito dinâmica (risos). Então, fizemos
a gravação juntos. Foi divertidíssimo”,
lembra Madeleine.
Ela lembra
agora da primeira vez que tocou no Brasil, num restaurante
da Vila Olímpia, para uma platéia de pouco mais
de uma centena de pessoas. Chegou em cima da hora, repassou
o som em meia hora, foi ao hotel trocar-se e logo voltou,
de cabelo molhado ainda. “Eu tinha feito um monte de
entrevistas naquela tarde, o tempo ficou apertado”,
conta. “Depois, cantei no... Funchal? Foi uma das melhores
platéias que tive na turnê, uma noite fantástica.
Pena que o tempo foi tão curto. Se eu puder ver um
pouquinho mais, posso crescer também um pouquinho mais
como cantora.”
Fontes:
Jotabê Medeiros; O Estado S.Paulo
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