Goya
Francisco
José de Goya y Lucientes é considerado um dos
grandes gênios da arte universal. Soube modelar na sua
obra toda uma época e protagonizou avanços artísticos
que o consagraram como um dos artistas mais interessantes
e respeitados de todos os tempos. Segundo o respeitado crítico
Robert Hughes, Francisco Goya assimilou as lições
dos neoclássicos, dos românticos e dos retratistas
ingleses e desenvolveu um estilo próprio e surpreendente.
Nas palavras de Hughes, “uma verdadeira figura de articulação,
o último do que estava acontecendo e o primeiro do
que estava por vir”.

Auto-Retrato - 1815
(Foto: Museu Nacional do Prado)
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Foi pintor
da corte mas, por depois trabalhar mais para si mesmo e amigos
próximos do que por encomenda do Estado ou do mercado,
tornou-se um dos primeiros símbolos do gênio
Romântico e, nessa linha, do Moderno.
E como
vários modernos, seus retratos críticos da realeza,
tanto quanto sua representação da estupidez
e do sofrimento humanos, ancoravam-se em sólidos princípios
clássicos. Conheceu a fama, o sofrimento e a perseguição
política.

O Guarda Sol - 1777
(Foto: Museu Nacional do Prado)
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Como gravurista,
deu origem a obras transcendentais de grande força
expressiva e absoluto domínio técnico que, desde
diferentes pontos de vista, abordam sua visão pessoal
do mundo.
Para tanto,
o artista mergulhou nos fundos mais sombrios das fantasias
e fobias humanas, algo assim como a visão de um lunático
ou de um desvairado na cata dos mistérios do inominável.
Composições que foram uma inesgotável
fonte de inspiração para Salvador Dali e Luís
Buñuel e tantos outros artistas surrealistas do século
XX.

Vôo das bruxas (1797/98)
(Foto: Museu Nacional do Prado)
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A multiplicidade
dos temas das suas telas e desenhos foi ímpar. Dos
salões da fidalguia e dos familiares do soberano, de
incontáveis retratos dos "grandes" do reino,
passava às cenas de galanteria e de aprazíveis
encontros campestres ou de caçadas. Em seguida, abria
as portas do mundo popular, aquele dos palcos da farândola,
das exibições das guitarras, dos bailes folclóricos,
dos carnavais e das praças de touros. Ou ainda expondo
o horripilante planeta dos endemoniados, espiando para dentro
dos pátios dos hospícios com seus "currais"
de loucos.

Disparate
matrimonial» (número 7) Clique na imagem para
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Do palácio
real à rua, do nobre ao comum, do ambiente refinado
ao lugar miserável, sórdido mesmo, tudo foi
por ele revelado, tal como se ele fora um ativo jornalista
de costumes, sempre atento ao exótico e ao bizarro,
ao que chamasse a atenção dos outros, pela beleza,
pelo espanto ou mesmo pelo terror .

The Disasters
of War, Goya. Clique na imagem para amplia-la
Goya,
em sua vida adulta, transcorrida entre os anos de 1766 e 1828,
ano da sua morte, conheceu tempos extraordinários.
Uma época marcada por violentos e contraditórios
acontecimentos na qual Tradição e Iluminismo,
Absolutismo e Liberalismo, Inquisição e Tolerância,
Revolução e Reação, Império
e Nacionalismo, Colonialismo e Independência, Barroco
e Classicismo, Academicismo e Romantismo, travaram batalhas
formidáveis, verdadeiramente titânicas, para
a conquista da hegemonia sobre a Europa e o Novo Mundo bem
como sobre os destinos dos povos.

Francisco
Goya, Inquisition Scene, 1816. Clique na imagem para amplia-la
Na época
de Goya a população espanhola ultrapassava os
10 milhões de habitantes, Madri tinha em torno de 150
mil moradores. A Igreja Católica, por sua vez, dispunha
de uma quantidade enorme de sacerdotes, frades e freiras,
calculadas em 200 mil pessoas (três vezes mais do que
a França e duas vezes mais do que a Itália),
e altamente desproporcional ao país. Havia ainda uns
400 mil chefes de família da fidalguia que controlavam
as terras, sendo que os aristocratas formavam em geral uns
10% da população dominando os 22 mil pueblos
que compunham as comunidades espalhadas pelo país.

Goya’s
The Second of May (1808). Clique na imagem para amplia-la
Pequena Biografia
Francisco
José de Goya y Lucientes (Fuendetodos, Saragoza, 30
de março de 1746 — Bordéus, França,
15 de abril de 1828)
Filho
do mestre dorador José de Goya e de Gracia Lucientes,
iniciou sua aprendizagem como pintor em 1759, aos treze anos,
com Don José Luzan y Martinez. Como era costume na
época, começou fazendo cópias de pinturas
de vários mestres.
Aos 17
mudou-se para Madri. A capital era o melhor lugar para artistas
em busca de projeção, haja vista a monarquia
opulenta da Espanha e o generoso patronato das artes existente
na época. As “canvas” (cartões pintados
a óleo), utilizadas na confecção de tapeçarias,
eram sua especialidade nesses primeiros anos na capital. Aos
18 e aos 20 anos Goya tentou, sem sucesso, entrar para a Academia
de Belas Artes de Madri.
Em 1770,
foi para Itália continuar os estudos, regressando no
ano seguinte a Saragoza, onde ficou encarregado de pintar
afrescos para a Capela Nossa Senhora do Pilar.

Sagrada
Familia con San Joaquín y Santa Ana ante
el Eterno en gloria
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Após uma viagem à Itália, volta para
a Espanha e, em 1773, casa-se com Josefa, irmã do pintor
Francisco Bayeu que, ainda em Zaragoza, havia sido seu tutor.

Pintura
de la Cartuja del Aula Dei
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Os biógrafos
atribuem a Goya todo o tipo de aventuras nos anos que se seguiram,
como a de ter-se tornado toureiro em Roma e ter-se envolvido
em inúmeras aventuras amorosas.
O
reconhecimento
Em 1780,
quando já tinha mais de 30 anos, que Goya começa
a se destacar na profissão, sendo finalmente eleito
membro da Academia de Belas Artes.

La duquesa
de Osuna 1785 Colección March (Palma de Mallorca)
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E graças
ao empenho de Francisco Bayeu, agora seu cunhado e mestre,
alcançou chegar-se à Corte, na capital. Em 1789,
após Carlos IV ser coroado, torna-se um dos pintores
da câmara do rei, e é a partir daí que
sua carreira, finalmente, começa a “decolar”.
Goya já passava dos 40.

Família
de Carlos IV
Óleo sobre tela , 280 × 336 mm, 1800-1801
Museu do Prado, Madrid
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A era
de luz e cor da corte Bourbon abre espaço para Goya
Nesse
período os retratos iriam marcar a carreira do artista.
Ainda que, por vezes, não executasse com perfeição
todos os detalhes de rostos e corpos, Goya era extremamente
feliz no uso das cores e ao expressar os estados psicológicos
dos retratados. É como se “penetrasse”
nas mentes de seus personagens, trazendo para a tela marcas
do caráter e do estado de espírito dessas pessoas.
E essa habilidade se tornaria ainda mais tocante depois que
o pintor perdeu por completo a audição.

Carlos
IV de rojo. Museo del Prado.
Oleo sobre lienzo. 127 cm x 94 cm
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Em 1792,
viajando pela Andaluzia, sem autorização real,
adoece gravemente, só se restabelecendo em Abril de
1793, ficando surdo. Lentamente as cores se tornaram mais
escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo.
Dessa viagem nasceu a amizade com a duquesa de Alba, que retratou,
assim como ao seu marido.

La duquesa
de Alba con mantilla 1797
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Cayetana,
a duquesa de Alba, era dezesseis anos mais nova que Goya,
e morreu por uma dose de veneno, atribuída à
rainha. Rica e bem casada, esteve muito envolvida com o artista
no período em que ela posou para dois dos mais famosos
quadros do pintor: 'La Maja Desnuda' e 'La Maja Vestida'.

La maja
desnuda 1797 - 1800
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La maja
vestida
1797 - 1798
Lienzo. 0,97 x 1,90
Museo del Prado, Madrid.
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Parcialmente
recuperado, retornou a Madrid no verão de 1793 e continuou
a trabalhar como artista da Corte, porém buscou outras
inspirações para expressar sua fantasia e invenção
sem limite, o que as obras sob encomenda não lhe permitiam.
Em 1796
e 1797 Goya visita em estadias prolongadas a duquesa de Alba
nas suas propriedades na Andaluzia começando a produzir
as 80 gravuras carregadas de um teor crítico da série
Os caprichos, a primeira das quatro séries
que criou. Essas obras deixaram a Inquisição
em alerta e, ante o temor a represálias, tiveram de
ser retiradas de venda. Terminou de pintar as gravuras em
áqua-tinta em Fevereiro de 1799. Colocava-as à
venda na loja de perfumes embaixo da sua casa em Madrid, mas
progressivamente foi retirando-as.

Capricho
26: They've Already Got a Seat (Ya tienen asiento), 1797–98.
Etching and aquatint, 8 9/16 x 6 in. (21.7 x 15.2 cm).
Brooklyn Museum, A. Augustus Healy Fund, Frank L. Babbott
Fund
and the Carll H. de Silver Fund, 37.33.26
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Los caprichos
(Caprices), plate 40, De que mal morira (What Illness Will
He Die from?)
original etching and aquatint, 1796-97. Fifth edition, late
nineteenth century, 19 x 14 cm
In
this series of 80 prints, Goya was the first to use the term
caprichos (caprices, whims, fantasies) to denote satire and
social commentary. "The author is convinced," he
wrote, "that it is as proper for painting to criticize
human error and vice as for poetry and prose to do so."
Here a jackass in suit and shoes takes his patient's pulse.
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Goya,
Los caprichos, plate 58, Trágala perro (Swallow It,
Dog), original etching, burnished aquatint, and drypoint,
1796-97. Second edition, 1856, 19 x 13 cm.
In Goya’s comment, “He who lives amongst men will
be irremediably vexed,” he makes a play on two meanings
of the word ‘jeringar’ – to syringe or to
vex. Here ecclesiastics of the Spanish Inquisition attempt
to force a clyster (an enema syringe) on their victim.

Un enano
(A Dwarf), original etching, 1778-79. First edition, 21 x
15 cm.
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Caprichos
Plate 77
O anúncio:
"Colección de estampas de assuntos caprichosos,
inventadas y grabadas al aguafuerte por don Francisco de Goya"
foi colocado na “Gaceta de Madrid” em 6 de fevereiro
de 1799. Em um longo texto o autor justifica seu trabalho
afirmando que a Pintura pode ser também um veículo
para censurar "los errores y los vicios humanos"
assim como a Poesia, e defende a capacidade criativa do artista
em contraste com o "copiante servil". Descreve as
gravuras como "assuntos caprichosos que se prestavam
a colocar as coisas em ridículo, fustigar preconceitos,
imposturas e hipocrisias consagradas pelo tempo". No
final indica: "Se venden en la calle del Desengaño,
número 1, tienda de perfumes y licores, pagando por
cada colección de 80 estampas 320 reales de vellón".
Em 31
de Outubro de 1799 foi nomeado Primeiro Pintor da Câmara
pelo novo rei da Espanha, com direito a coche. Em 1803 deu
ao rei as chapas dos Caprichos, em troca de uma pensão
para o filho Francisco Xavier, nascido em Dezembro de 1784.
Começa a sua segunda época de retratos de figuras
públicas, pintando o ministro Jovellanos e o embaixador
francês Guillemardet, passando pelo seu famoso retrato
da família real espanhola (1800-1801) e terminando
nos retratos, do marquês de San Adrián (1804)
e de Bartilé Sureda (1806).

Gaspar
Melchor de Jovellanos. 1798.
Oil on canvas, 205 x 133 cm. Museo del Prado, Madrid, Spain.
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Portrait
of Antonia Zárate. c. 1805.
Oil on canvas, 103.5 x 81.9 cm.
National Gallery of Ireland, Dublin
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Portrait
of Pedro Mocarte, a Singer of the Cathedral of Toledo. c.
1805-1806.
Oil on canvas, 78 x 57 cm. The Hispanic Society of America,
New York, NY, USA.
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Dona Teresa
Sureda 1805 ; Oil on canvas, 119.8 x 79.4 cm
National Gallery of Art, Washington
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Retrato
de Isabel Lobo Velasco de Porcel 1805
National Gallery (Londres)
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Neste
período, que acabará em 1808, com a invasão
francesa da Espanha, era o artista mais bem sucedido da Espanha
naquela época.
Em 1808,
o trono foi ocupado por José Bonaparte, irmão
de Napoleão, imperador dos franceses. Em
dezembro de 1809, Goya jurou fidelidade a José Bonaparte,
recebendo em 1811 a condecoração da Ordem Real
de Espanha. Nessa época fez "Os desastres da guerra".

Goya,
Los desastres de la guerra (Disasters of War), plate 25
Tambien estos (These too), original etching, drypoint, and
burin, posthumous 1862-63.
Fifth edition, late nineteenth century, 12 x 19 cm.
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Con razón
o sin ella. Los desastres de la guerra (1812-1815)
Goya. Madrid, Biblioteca Nacional.
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Grabado
nº 39 de la serie Desastres de la Guerra, Francisco de
Goya (1810-1815)
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Em 1808,
o general Palafox chama-o a Saragoza para pintar as ruínas
e episódios da defesa heróica da cidade contra
os franceses. Mas em Dezembro de 1809 Goya jura fidelidade
a José Bonaparte, nomeado rei de Espanha pelo irmão
Napoleão, recebendo em 1811 a condecoração
da Ordem Real de Espanha. É desta época a realização
dos Desastres da Guerra que se prolongarão até
1820, e que, devido ao seu estilo impressionista influenciarão
pintores franceses do século XIX, como Monet. As impressões
de Os Desastres da Guerra , cujas matrizes escondia, ocorreram
postumamente, em 1863. São cenas que o artista testemunhou
em cidades como Zaragoza, Aranjuez e Madri e que retratam
as conseqüências da guerra: fome, miséria,
egoísmo e violência.
Quando
Fernando VII retomou o trono espanhol em 1814, a despeito
de tudo, aceitou Goya como pintor na corte. O rei teria dito
“deveria mandar te enforcar, mas... és um artista...
faz-me um retrato.”

El duque
de Wellington
1812 - 1814
Tabla. 1,64 x 0,52
National Gallery, Londres.
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Goya reassumiu
seu cargo na corte e dissolveu as suspeitas de colaboracionismo
com o regime de Bonaparte, apresentando os quadros "O
Dois de Maio ou a Carga dos Mamelucos" e o "Fuzilamentos
de 8 de Maio de 1808", mostrando a resistência
do povo espanhol.
Os acontecimentos
desta guerra, cheia de horrores e de sangue, inspiraram O
3 de Maio e A Carga dos Mamelucos. São obras transbordantes
de um poderoso ímpeto interior e de uma ardente imaginação.
Estas pinturas demonstram um uso de cores extremamente poderoso
e expressivo. Pela primeira vez, a guerra foi descrita como
fútil e sem glória, e pela primeira vez não
havia heróis, somente assassinos e mortos.

Os Fuzilamentos
do Três de Maio de 1808
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A tela
"Os Fuzilamentos de 3 de Maio" descreve a conclusão
do levante dos espanhóis contra os invasores. Na madrugada
do dia 3, dezenas de homens e mulheres que haviam participado
da revolta daquela manhã, eram colocados no paredão
em fila, e fuzilados. Esta é uma das obras mais chocantes
já registradas pela história da pintura. Executada
de maneira bastante expressiva, em pinceladas rápidas,
procura ressaltar o martírio daqueles homens que heroicamente
tentaram lutar pela sua libertação e agora pagavam
com o sangue o preço pela sua derrota. Os soldados
napoleônicos no quadro são mostrados de costas,
com autômatos, impessoais, e todo o foco da composição
é dirigido para o personagem que ergue os braços,
mostrando toda sua impotência diante de sua sentença
fatal.
Apos as
guerras, Goya parece ter perdido respeito pela aristocracia,
expondo nas suas pinturas as verdadeiras identidades e as
fraquezas dos modelos. Um exemplo é o retrato do rei
Fernando VII de Espanha.

GOYA Y
LUCIENTES, Francisco de
Portrait of King Ferdinand VII of Spain, 1814-1815
Oil on canvas
84 x 63,5 cm
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Seus
retratos mostram a sua fascinação pelas mulheres
e pelas crianças, não igualada por nenhum outro
artista, com a possível exceção de Renoir.
Dois retratos de mulheres, mostram claramente essa qualidade:
"Doña Antonia Zarate", orgulhosa, ereta,
coquete e algo triste; e a "Condesa de Chinchón",
o mais terno de seus retratos de mulheres.

Condesa
de Chinchón
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Portrait
of Mariano Goya (1806-74) 1815-17
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Doña
Narcisa Barañana de Goicoechea (Hacia 1810)
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Em 1819
Goya se exilou em sua Quinta Del Sordo, em Madrid. As guerras
napoleônicas vieram e se foram, e os horrores sofridos
pelos espanhóis deixaram um Goya amargo, transformando
a sua arte em um reflexo da conduta insana dos seres humanos.
Chega
o tempo da Santa Aliança na Europa (1815-1848). A coligação
legitimista e reacionária, restaurando o mando dos
nobres e do clero, espanta os burgueses e o povo e sufoca
as liberdades. O Santo Oficio reabriu suas inquisições
contra os inimigos do rei e da Igreja, submetendo-os aos sanbenitos
(traje obrigatório usado pelo réu). Os amigos
de Goya e o próprio artista, então com mais
de 70 anos de idade, vivendo retirado desde 1819 na sua propriedade
La Quinta del Sordo, situada nas margens do rio Manzanares,
sentem-se ameaçados.

Sanbenito
en Aquellos polbos - Caprichos
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O clima
reinante, perigoso e soturno, seguramente o conduziu às
Pinturas Negras, murais de pesadelo pintados nas paredes de
sua Quinta del Sordo, sucessão impressionante de 14
obras, pintadas entre 1819-1823, realçando a estupidez
e os pavores coletivos.
Uma recente
teoria quis atribuir a autoria das Pinturas Negras ao seu
filho Javier; porém Bozal e Glendinning, dois dos máximos
conhecedores da obra pictórica de Goya, recusam esta
hipótese. É difícil imaginar que este
fato extraordinário não fora conhecido pelos
seus contemporâneos. A técnica pictórica,
a qualidade da pincelada, os tipos humanos grotescos, os temas
obsessivos, que já estão presentes na obra goyesca
anterior e posterior, fazem infundada a atribuição
a Javier Goya.

Francisco
Goya (1746-1828): "The Pilgrimage of San Isidro",1820-1821
(One of the "black paintings" from the Quinta del
Sordo).
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As últimas
e mais misteriosas de seu gênio atormentado, como "Saturno
devorando a un hijo" (1819) encontram-se atualmente no
Museu do Prado. Esta pintura constitui uma referência
aos conflitos internos de Espanha, durante o reinado absolutista
de Fernando VII.

Francisco
Goya (1724-1806): "Two Old People Eating Soup",1820-1821
(One of the "black paintings" from the Quinta del
Sordo).
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Sans titre,
appelé Saturne dévorant un de ses enfants
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"A
man and two women laughing", 126-66 cm.
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Hombres
leyendo. A cena que representa este quadro
viu-se como uma das tertúlias políticas clandestinas
que se produziram nos tempestuosos anos do Triênio Liberal.
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El Aquelarre
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Em 1821,
a Inquisição abriu um processo contra Goya por
considerar obscenas as suas "Majas", mas o pintor
conseguiu livrar-se, sendo-lhe restituída a função
de "Primeiro Pintor da Câmara".
Última
grande série águas-fortes do artista, Disparates
provavelmente não foi um trabalho concluído.
Nas 18 gravuras desta série, Goya nos submerge em um
mundo de sombras, monstros à espreita, espíritos
que abandonam seus corpos, cenas inexplicáveis que
parecem arrancadas de sonhos e que seguem sendo hoje em dia
um tema de pesquisa e debate.

Disparate
nº 6. 1816-1823
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"Disparates"
(No.2), ca. 1815 - 1824
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Modo de
volar (A Way of Flying)
Plate No. 13 from Los Disparates, 1815-1824, etching and burnished
aquatint,
Meadows Museum, SMU, Dallas, Algur H. Meadows Collection
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Em vista
da situação política, não houve
para ele outra solução senão que se abrigar
no exílio. Ainda que anistiado e tendo recebido uma
generosa pensão real, mudou-se para Bordeaux em 1823
e, três anos depois, se demitiu do cargo de pintor da
corte espanhola.
Faleceu
octogenário em Bordeaux, na França, junto com
seus companheiros liberais, Leandro Fernández de Moratín
e o poeta, Silvela, entre outros, no dia 28 de abril de 1828.
Seus restos
mortais, suas cinzas, encontram-se na ermida de San Antonio
de la Florida, cujo interior ele pintou.

Gravuras
Provavelmente
depois de Rembrandt, poucos mestres conseguiram atingir o
preciosismo da técnica da gravura como Goya. Pode-se
considerá-la como a arte do instantâneo, daquilo
que não demanda muito tempo na sua feitura, o que corresponde
mais rapidamente a uma idéia fugaz do artista. A prática
da água-forte e da litografia era recente, e o artista
fez largo uso delas para atender aos flagrantes das diversões
do povo (as cenas de touradas e as popularíssimas corridas
de touros), assim como as peripécias do dia-a-dia dos
espanhóis, captando o instante maravilhoso, insólito,
em que algo, real ou imaginário, sucede na mente do
criador, que logo lhe da vida em forma de imagem qualquer.
Essas
gravuras estão dividas em quatro grandes blocos e formam
um conjunto que é bem superior a 200 estampas, separadas
entre:
1) Os
Caprichos: 80 imagens realizadas entre 1797 e 1799,
cuja temática satiriza, com forte teor crítico,
caricatural, os vícios e defeitos latentes na sociedade
espanhola do Antigo Regime. As cenas, em sua grande maioria
desenvolvidas em ambientes noturnos, giram em torno de dois
temas principais: a prostituição e a superstição.
Nas palavras do próprio artista, seus caprichos tinham
o intuito de "fustigar preconceitos, imposturas e hipocrisias
consagradas pelo tempo". A comercialização
das obras chegou a ser proibida pela Inquisição
(quando vivo, das 300 reproduções que Goya fez
da coleção vendeu apenas 83 delas).
2) Os
Desastres da Guerra: 82 estampas fortemente realistas
sem data certa de execução, que conduzem à
sátira política e a um irado protesto contra
os crimes da humanidade. Os horrores da Guerra da Independência
Espanhola (1808-1814) foram impressos com muita força
dramática, juntamente com títulos em formato
de comentários, provérbios, insultos ou elogios.
"Eu o vi", escreveu ele numa delas. Era uma visão
completamente oposta a daqueles tantos outros artistas convencionais
que a pintavam como palco da grandeza e da honra. Como seu
antecessor somente se aponta Jacques Callot (+ 1635), que
desenhou os tormentos da Guerra dos Trinta Anos, numa série
de estampas em 1633.
Provavelmente
em função do receio da pena de morte, Goya tenha
escondido seu testemunho até o final de sua vida: Os
Desastres da Guerra só foram impressos em Madri em
1863, trinta e oito anos após sua morte e desde então
a série foi entendida como um libelo contra a guerra,
uma das maiores contribuições de um artista
na denuncia da barbárie humana.
3) A
Tauromaquia: conjunto de 40 gravuras sobre as touradas,
engendradas a partir de 1815, foi realizada em uma época
de dificuldades financeiras do artista e num período
de intensificação da censura e vigilância
da parte do Tribunal da Inquisição. A maioria
das suas cenas apresenta o dinamismo e a violência do
encontro entre o homem e a fera com intenção
documental ou como se fora um jornalismo de espetáculos
que testemunha o que se passou na arena de touros. Uma espécie
de versão castelhana do combate dos lápidas
contra os centauros esculpidos nos frisos do Pártenon.
4) Os
disparates, por fim, resulta na série de mais
difícil interpretação: as especulações
circulam em torno de uma concepção surrealista
da sociedade, da sátira aos acontecimentos políticos,
da psicologia e das tradições folclóricas
e carnavalescas do povo da Espanha. Acredita-se que esse trabalho
- também conhecido como Provérbios - não
chegou a ser concluído, sendo a última grande
coleção de Goya. As gravuras mostram impressões
oníricas e fantásticas, repletas de monstros,
assombrações, bruxos, fantasmas gigantescos,
de máscaras voadoras, de animais e pássaros
estranhos, de morcegos, de espíritos assustadores e
outros seres inexplicáveis.
Fontes:
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Grandes Mestres da Pintura, Folha Online;; AS GRAVURAS de
GOYA; Silvia Livi
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