A
Arte do Antigo Egito
A civilização
egípcia é uma das que mais exercem fascínio
sobre os homens, e sua história foi a mais longa de
todas as civilizações antigas que floresceram
em torno do Mediterrâneo, estendendo-se, quase sem interrupção,
desde aproximadamente o ano 4000 a.C. até o século
IV d.C.

Pharaoh
Statue in Cairo Museum, Egypt
Antigo
Império
Durante
as primeiras dinastias, construíram-se importantes
complexos funerários para os faraós em Abidos
e Sakkara. Os hieróglifos (escrita figurativa) encontravam-se
então em seu primeiro nível de evolução
e já mostravam seu caráter de algo vivo, como
o resto da decoração.
Na III
dinastia, a capital mudou-se para Mênfis e os faraós
iniciaram a construção de pirâmides, que
substituíram as mastabas como tumbas reais. O arquiteto,
cientista e pensador Imhotep construiu para o faraó
Zoser (c. 2737-2717 a.C.) uma pirâmide em degraus de
pedra e um grupo de templos, altares e dependências
afins. Deste período é o famoso conjunto monumental
de Gizé, onde se encontram as pirâmides de Quéops,
Quéfren e Miquerinos.
A escultura
caracterizava-se pelo estilo hierático, a rigidez,
as formas cúbicas e a frontalidade. Primeiro, talhava-se
um bloco de pedra de forma retangular; depois, desenhava-se
na frente e nas laterais da pedra a figura ou objeto a ser
representado. Destaca-se, dessa época, a estátua
rígida do faraó Quéfren (c. 2530 a.C.).

Quéfren,
Egyptian Museum, Cairo, ( 2575–c. 2465 a.C.)
A escultura
em relevo servia a dois propósitos fundamentais: glorificar
o faraó (feita nos muros dos templos) e preparar o
espírito em seu caminho até a eternidade (feita
nas tumbas). Foi marcada pela escolha de materiais resistentes,
como o basalto,o pórfiro, xisto, diorito e o granito.
Exprimem de uma maneira geral uma posição fixa,
com os braços colados ao corpo (as estátuas
egípcias influenciaram as estátuas gregas mais
antigas sobre jovens, conhecidas como kouros). As estátuas
que se achavam nos túmulos eram consideradas como uma
espécie de corpo de substituição; o ka
e o ba deveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não
sendo por isso relevante representar os defeitos do corpo.
Algumas estátuas atingiam proporções
grandiosas, como a Esfinge do planalto de Guizé e os
Colossos de Memnon.

Colossos
de Memnon - Luxor
Na cerâmica,
as peças ricamente decoradas do período pré-dinástico
foram substituídas por belas peças não
decoradas, de superfície polida e com uma grande variedade
de formas e modelos, destinadas a servir de objetos de uso
cotidiano. Já as jóias eram feitas em ouro e
pedras semipreciosas, incorporando formas e desenhos, de animais
e de vegetais.
Ao finalizar
a VI dinastia, o poder central do Egito havia diminuído
e os governantes locais decidiram fazer as tumbas em suas
próprias províncias, em lugar de serem enterrados
perto das necrópoles dos faraós a quem serviam.
Desta dinastia data a estátua em metal mais antiga
que se conhece: uma imagem em cobre (c. 2300 a.C.) de Pepi
I (c. 2395-2360 a.C.).

Estatua
de Pepi I
La estatua de tamaño natural de Pepi I (c. 2300 a.C.),
fue encontrada en Hierakonpolis, Egipto. Se cree que es la
estatua en metal más antigua que existe.

Sarcófagos
no Museu do Louvre
Novo
Império
O
Novo Império (1570-1070 a.C.) começou com a
XVIII dinastia e foi uma época de grande poder, riqueza
e influência. Quase todos os faraós deste período
preocuparam-se em ampliar o conjunto de templos de Karnak,
centro de culto a Amon, que se converteu, assim, num dos mais
impressionantes complexos religiosos da história.

Avenida
de Criosfinges em Karnak
Do Novo
Império, também se destaca o insólito
templo da rainha Hatshepsut, em Deir el Bahari, levantado
pelo arquiteto Senemut (morto no ano de 1428 a.C.) e situado
diante dos alcantilados do rio Nilo, junto ao templo de Mentuhotep
II.

Temple
Hatshepsut
Durante
a XIX Dinastia, na época de Ramsés II, um dos
mais importantes faraós do Novo Império, foram
construídos os gigantescos templos de Abu Simbel, na
Núbia, ao sul do Egito.

Abu
Simbel

Pintura
na câmara tumular de Nefertari, mulher de Ramses II.
A escultura,
naquele momento, alcançou uma nova dimensão
e surgiu um estilo cortesão, no qual se combinavam
perfeitamente a elegância e a cuidadosa atenção
aos detalhes mais delicados. Tal estilo alcançaria
a maturidade nos tempos de Amenófis IV

Busto
de Amenofis IV/Akhenatón
A arte
na época de Akhenaton refletia a revolução
religiosa promovida pelo faraó, que adorava Aton, deus
solar, e projetou uma linha artística orientada nesta
nova direção, eliminando a imobilidade tradicional
da arte egípcia. Deste período, destaca-se o
busto da rainha Nefertiti (c. 1365 a.C.).

Busto
de Nefertiti
A pintura
predominou então na decoração das tumbas
privadas. A necrópole de Tebas é uma rica fonte
de informação sobre a lenta evolução
da tradição artística, assim como de
excelentes ilustrações da vida naquela época.
Durante
o Novo Império, a arte decorativa, a pintura e a escultura
alcançaram as mais elevadas etapas de perfeição
e beleza. Os objetos de uso cotidiano, utilizados pela corte
real e a nobreza, foram maravilhosamente desenhados e elaborados
com grande destreza técnica. Não há melhor
exemplo para ilustrar esta afirmação do que
o enxoval funerário da tumba (descoberta em 1922) de
Tutankamon.

Mascara
mortuaria de Tutankamon
A natureza
do país — desenvolvido em torno do Nilo, que
o banha e fertiliza, em quase total isolamento de influências
culturais exteriores — produziu um estilo artístico
que mal sofreu mudanças ao longo de seus mais de 3.000
anos de história. Todas as manifestações
artísticas estiveram, basicamente, a serviço
do estado, da religião e do faraó, considerado
como um deus sobre a terra. Desde os primeiros tempos, a crença
numa vida depois da morte ditou a norma de enterrar os corpos
com seus melhores pertences, para assegurar seu trânsito
na eternidade.
A regularidade
dos ciclos naturais, o crescimento e a inundação
anual do rio Nilo, a sucessão das estações
e o curso solar que provocava o dia e a noite foram considerados
como presentes dos deuses às pessoas do Egito. O pensamento,
a cultura e a moral egípicios eram baseados num profundo
respeito pela ordem e pelo equilíbrio. A arte pretendia
ser útil: não se falava em peças ou em
obras belas, e sim em eficazes ou eficientes.

Funerary
Papyrus Depicting the Deceased Prostrate in Front of the Crocodile
(Papyrus)
O intercâmbio
cultural e a novidade nunca foram considerados como algo importante
por si mesmos. Assim, as convenções e o estilo
representativos da arte egípcia, estabelecidos desde
o primeiro momento, continuaram praticamente imutáveis
através dos tempos. Para o espectador contemporâneo
a linguagem artística pode parecer rígida e
estática. Sua intenção fundamental, sem
dúvida, não foi a de criar uma imagem real das
coisas tal como apareciam, mas sim captar para a eternidade
a essência do objeto, da pessoa ou do animal representado.
Na ourivesaria,
a civilização egípcia utilizou-se principalmente
do ouro, prata e pedras.

Pendente
em ouro de Osorkon II, que representa uma tríade de
deuses composta por Osíris (ao centro), Hórus
e Ísis
Os egípcios
ao esculpir e pintar tinham o propósito de relatar
os acontecimentos de sua época, as histórias
dos Faraós, deuses e do seu povo em menor escala.

Interior
of Temple Karnak
O tamanho
das pessoas e objetos não caracterizavam necessariamente
a distância um do outro e sim a importância do
objeto, o poder e o nível social.

Alabaster
Carvings Found in the Tomb of Tutankhamun by Kenneth Garrett
Os
valores dos egípcios eram eternos e estáveis.
Suas leis perduraram cerca de 6.000 anos.
Para
os antigos egípcios, o que importava era a “essência
eterna”, aquilo que constituía a visão
de uma realidade constante e imutável. Portanto, sua
arte não se preocupava em variar as aparências
para atingir efeito visual, e até mesmo a arguta observação
da natureza (em figuras que aparentemente eram pintadas de
memória) submetia-se a uma rígida padronização
de formas, as quais muitas vezes se transformavam em símbolos.
Se as cenas egípcias parecem definitivamente irreais,
isso não se deve a nenhum “primitivismo”
(pois fica bem clara a habilidade técnica e a evidente
compreensão das formas naturais). Era antes, conseqüência
direta da função essencialmente intelectual
que a arte desempenhava. Toda figura era mostrada do ângulo
em que pudesse ser mais facilmente identificada, conforme
uma escala que se baseava na hierarquia, sendo o tamanho dependente
da posição social. Daí resultava um aspecto
muitíssimo padronizado, esquemático e quase
diagramático. A absoluta preocupação
com a precisão e a representação “completa”
aplicava-se a todos os temas; assim, a cabeça humana
é sempre reproduzida de perfil, mas os olhos são
sempre mostrados de frente.

Esfinge
de Gizé
Considerada
um dos monumentos mais representativos da cultura do Egito
Faraónico, a Esfinge de Gizé foi construída
com um único bloco de rocha natural e calcula-se que
tenha cerca de 4500 anos de existência. Situada na planície
de Gizé em frente as três grandes pirâmides
de Quéops, Quefren e Miquerinos e apenas a vinte quilómetros
do centro do Cairo, mede seis metros de largura, 20 de altura
e 73 metros de comprimento. É a maior estátua
de pedra do mundo. Só a boca mede cerca de dois metros
e cada uma das orelhas tem quase 1,37 m de altura.

A identidade
do seu construtor é um grande enigma. Apesar de não
haver referências oficiais, são muitas as teorias
que apontam o faraó Quefren como seu mentor. Alguns
peritos afirmam que o rosto sob o véu real é
o seu.

Gansos
de Medum, Egito, ( 2000 a.C )
Talvez
uma das imagens mais impressionantes das tumbas egípcias
sejam os “Gansos de Medum”, três majestosas
aves da tumba de Nefermaat (um filho de Snefru, o primeiro
faraó da IV Dinastia) e de sua esposa Itet.
Os
gansos, que remontam a mais de 2 mil anos antes de Cristo,
são apenas um detalhe num friso pictórico na
antiga cidade de Medum, mas já sugerem a vitalidade
e pujança dos triunfos escultóricos que estavam
por vir.


Cabeça de Sanuseret III - Egito, Império
Médio (XII dinastia / c. 1860 a.C.) Obsidiana
Obra-prima
do génio egípcio, esta cabeça fazia parte
de uma estátua de corpo inteiro, a qual retrata, muito
provavelmente, o faraó Sanuseret III em plena maturidade.
O faraó tem na cabeça o toucado plissado (nemes),
com o uraeus, serpente sagrada, símbolo do poder real.
Nesta peça o artista transmitiu a personalidade do
retratado, de caráter firme e grande humanidade nas
ações, transparecendo as pesadas responsabilidades,
inerentes ao alto cargo que exerce.
Realizado
em obsidiana, vidro vulcânico, material de grande dureza
e fragilidade, este retrato foi produzido numa época
em que se assistia, no Egito, a um verdadeiro renascimento
cultural e artístico, que teve como expoente o florescimento
da arte do retrato.


Pintura
Mural do Túmulo de Nebamun ( 1350 a.C )
Detalhe
de pintura mural do túmulo de Nebamun que mostra dançarinas
e uma instrumentista. British Museum, c. 1350 a.C

Mulheres
Lamentosas
Pintura
da tumba de Ramose, mostra uma procissão funerária
de Mulheres Lamentosas. Ramose foi ministro de Amenófis
III e Amenófis IV (mais conhecido como Akhenaton),
dois faraós da XVIII Dinastia. Nessa pintura, as mulheres
são bidimensionais e esquemáticas, mas os gestos
angustiados vibram com o pesar.


Gatos
- Egito, época saíta (664-525 a.C.) , Bronze.
Uma
gata amamentando uma cria e brincando com outra está
deitada sobre uma caixa-sarcófago destinada a guardar
restos mumificados de gatos. Os gatos foram muito representados
na arte egípcia, muito especialmente na época
saíta, período de extensa figuração
animalista. Eram consagrados ao culto da deusa Bastet, deusa
da fecundidade e protetora do lar, e tinham habitualmente
as orelhas furadas para a colocação de argolas
de ouro.
A deusa
Bastet, com cabeça de felino, conta-se entre as muitas
divindades da religião politeísta egípcia,
e tinha o seu templo em Bubastis, no delta do Nilo.



Fontes:
Museu do Louvre, Museu do Cairo, Fundação Calouste
Gulbenkian, "Egito, Arte e arquitetura do", Enciclopédia®
Microsoft® Encarta 99, Portal Artes e Wikipedia
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