Maurice
Béjart
O bailarino
e coreógrafo Maurice Béjart, um dos fundadores
da dança contemporânea, nasceu em Marselha, no
sul da França, em 1º de janeiro de 1927. Seu verdadeiro
nome era Maurice-Jean Berger, mas numa homenagem a Moliére
adotou o sobrenome da sua mulher, Armande Béjart. Apesar
de ser formado em Filosofia, dedicou-se à dança
desde os 14 anos, seguindo o conselho de seu médico,
que considerava a constituição física
de Béjart muito frágil. Influenciado pelo filósofo
alemão Friedrich Nietzsche, Béjart dizia que
o balé é "um alegre saber".

Maurice
Béjart
Depois
de se formar como bailarino clássico em Londres e Paris,
onde estudou com os conceituados professores Léo Staats,
Madame Egorova e Madame Roussane, passou a dançar nas
companhias de Jamine Charrat e Roland Petit.
Aos 20
anos, criou sua primeira coreografia, "Vichy".
Foi em
uma turnê com o Balé Cullberg, no qual dançava
desde 1949, que Béjart despertou para a necessidade
de se criar coreografias mais expressivas. Assinou a primeira
delas em 1952, para o filme sueco "L'oiseau de feu"
("O pássaro de fogo"), em que ele é
o principal intérprete.
No ano
seguinte, apresentou seus primeiros recitais como coreógrafo
no Théâtre de l'Etoile em Paris.

Maurice
Béjart et Ása Lanova, Ballets l'Etoile, Paris,
1953
De personalidade
irrequieta e inconformada, Béjart não aceitava
que o balé fosse uma arte "separada das massas".
Tentando aproximar o grande público e a dança,
decidiu inovar e elaborou a arrojada coreografia "Sinfonia
para um homem só", sobre a música de vanguarda
de Pierre Henry e Pierre Schaeffer. O balé, no entanto,
desagradou aos círculos tradicionais de dança
e a parcela da crítica. Segundo o coreógrafo
Jean-Claude Gallotta, "Sinfonia para um homem só"
foi uma revolução "mais sociológica
que artística", pois Béjart conservou a
técnica clássica, mas transformou a alma do
balé em algo sagrado e, ao mesmo tempo, sensual.
Abandonando
a França, o bailarino instalou-se em Bruxelas, na Bélgica
onde consagrou-se com a marcante coreografia "Sagração
da Primavera" de Igor Stravinsky que teve um teve um
acolhimento triunfal no Teatro Real de La Monnaie em 1959.
Fundou então a aclamada companhia Balé do Século
XX, grupo que somou êxito após êxito, conquistando
grande popularidade internacional.

Le sacre
du printemps, les ballets du XX° siècle
© Maison Jean Vilar
Em 1961,
encantou o mundo da dança com Bolero, interpretado
magistralmente pelo grande bailarino Jorge Donn.
Depois
de uma discussão com Gérard Mostier, diretor
do Teatro Real de La Monnaie, Maurice Béjart prosseguiu
seu trabalho, a partir de 1985, na Suíça, graças
aos generosos subsídios dados pelas cidades suíças,
optou por se mudar para Lausanne, aos pés dos Alpes.
Rebatizou então sua
companhia com o nome de Balé Béjart Lausanne
e, em seguida, Balé Rudra Béjart.
Nos últimos
anos, suas criações tornaram-se ainda mais ambiciosas,
como nos casos de "Ring um den Ring" (1990), sobre
música de Richard Wagner, e "MutationX" (1998),
além das coreografias realizadas já no século
21: "Madre Teresa e as crianças do mundo"
(2002), "Adeus, Federico" (2003, dedicada ao cineasta
Federico Fellini) e "Zaratustra" (2006, inspirada
na obra "Assim falou Zaratustra", de Friedrich Nietzsche).

Artem Shpilevsky
and Bettina Thiel; Ring um den Ring
Maurice
Béjart também se dedicou ao ensino, compartilhando
sua experiência por meio de duas escolas: Mudra, fundada
em 1970, na cidade de Bruxelas, e Rudra, criada em Lausanne,
no ano de 1992. Um de seus principais ensinamentos está
resumido na frase que ele próprio criou, a fim de definir
o que é a dança: "Um mínimo de explicação,
um mínimo de anedotas e um máximo de sensações".
Apesar
de estar há anos confinado à cadeira de rodas,
devido a uma severa doença nos quadris, ele trabalhou
até o fim com o seu Béjart Ballet Lausanne.
Em uma de suas muitas entrevistas, ao ser questionado sobre
a proximidade da morte, Béjart respondeu: "Eu
creio que a gente morre sempre a tempo. O tempo é contado
de maneira diferente para cada um, mas nós morremos
a tempo".
Béjart
faleceu em 22 de novembro de 2007, aos 80 anos, no Centro
Hospitalar de Lausanne, na Suíça. Na ocasião,
a França mostrou enorme pesar pela sua morte. Foi homenageado
por figuras do mundo do espetáculo e da política,
ao mesmo tempo que rádios e televisões modificavam
suas programações para oferecer emissões
especiais em sua lembrança.

Béjart
Ballet Lausanne
Ao ser
informado do falecimento, o bailarino Patrick Dupond afirmou:
"Sem dúvida, agora, ele deve estar começando
a fazer as estrelas dançarem". E não foi
menor o elogio da célebre bailarina italiana Carla
Fracci, de 71 anos: "O Deus da dança morreu".
"Marcou
muitíssimas gerações de dançarinos",
disse a dançarina Marie-Claude Pietragalla. "Vamos
nos sentir órfãos", lamentou perante os
microfones da emissora "Europe-1".
"Não
teríamos chegado até aqui se Béjart não
tivesse existido, se não tivesse apresentado esta revolução
incrível e fantástica ao mundo da dança",
afirmou Pietragalla.
O coreógrafo
Jean-Claude Gallotta explicou que Béjart foi "uma
de suas primeiras fascinações".
Mais tarde,
"apesar de percorrermos caminhos estéticos diferentes,
continuou sendo um exemplo. (Béjart) libertou a dança
clássica daquilo que a amarrava. Tinha uma bela obsessão:
democratizar a cultura", disse Gallotta.
Hugues
Gall, responsável do Balé Lausanne, defendeu
que apesar da "companhia se sentir comovida, o 'show'
deve continuar". "Era o desejo de Maurice, que continuássemos
sua obra", explicou à cadeia francófona
"RTL".
O presidente
francês Nicolas Sarkozy, também chorou a morte
do coreógrafo.
Sarkozy
assegurou que com seu desaparecimento "se apaga um dos
grandes nomes da história da dança" "Suas
coreografias permanecerão em nossas memórias",
disse o presidente em comunicado. "Unicamente a morte
podia interromper sua inspiração", acrescentou.
As companhias
de dança fundadas por Béjart atuaram não
apenas nos mais famosos teatros do mundo, mas, seguindo o
sonho de aproximar o balé das massas, apresentaram-se
em estádios desportivos e circos. Béjart criou
cerca de 140 coreografias, nas quais somou à dança
efeitos teatrais, textos literários e elementos de
multimídia, criando uma arte desmesurada, na qual se
misturam o cinema, o teatro e a ópera. Seguidor de
culturas orientais, imprimiu em sua obra a marca dos gestos
brilhantes. Trabalhou com várias estrelas da dança,
como Rudolf Nureyev, Maya Pilsetskaya e Suzanne Farrell.
 Rudolf
Nureyev
Béjart
foi condecorado com a Ordem do Sol Nascente (1986) pelo imperador
japonês Hiroito, nomeado Grande Oficial da Coroa (1988)
pelo rei Balduíno, da Bélgica, e eleito, em
1994, membro da Academia Francesa de Belas Artes.
Das coreografias
que assinou ao longo dos anos, tiveram especial repercussão
também: "Nona sinfonia" (1964), "Romeu
e Julieta" (1966), "Missa do tempo presente"
(1967) e "Malraux ou a metamorfose dos deuses" (1986).

Maurice
Béjart. EFE/Laurent Gillieron
A última
coreografia de Maurice Béjart, inacabada, A Volta ao
Mundo em 80 Minutos, estreou no dia 20 de Dezembro de 2007,
no Teatro Beaulieu, em Lausanne.
Fontes:
El País, O Estado de S.Paulo, Agência EFE, La
Vanguardia, The New York Times e Le Monde
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