La
persistencia de la memoria |
As
páginas de "Vida Secreta", autobiografia
do pintor espanhol Salvador Dalí, desvendam um
traço menos lembrado da personalidade do maior
gênio da arte surrealista do século 20:
a paixão pelo vil metal. Em Nova York, onde viveu
durante oito anos na década de 40, Dalí
soube como poucos explorar comercialmente seu nome.
Aliou-se à estilista Coco Chanel para criar uma
coleção de jóias e roupas, escreveu
o roteiro do filme Quando Fala o Coração
com Alfred Hitchcock e ajudou na criação
do desenho Destino, de Walt Disney. Incentivado
pela mulher, Gala, emprestou a imagem de bigodes retorcidos
até para vender chicletes.
O
interesse por dinheiro rendeu a Salvador Dalí
o apelido Avida Dollars - anagrama feito com as letras
do nome do artista e cujo significado em latim pode
ser lido como "ávido por dólares".
Anos mais tarde, já de volta à Europa
e estabelecido mundialmente como marca publicitária
de sucesso, Dalí dedicava as primeiras horas
do dia somente para assinar reproduções
de suas obras. "Nada melhor que tomar um bom café
da manhã ganhando 20 mil dólares",
era seu refrão preferido.
Em
sua última aparição pública,
em janeiro de 1989, debilitado por problemas respiratórios
e cardiovasculares, deixou-se exibir em frente às
câmeras de tevê com tubos de oxigênio
pendurados no nariz e ralos fios de cabelo resistentes
à calvície. As olheiras alcançavam
a metade do rosto. As mãos de 85 anos tremiam
enquanto a frase debilmente pronunciada era uma nítida
crença na vida eterna: "Os gênios
não morrerão jamais".

Este
quadro tão pequeno
La persistencia de la memoria
(24x33cm) é provavelmente a mais conhecida de
todas as obras de Dali, e uma das obras de arte mais
famosas do século XX. A flacidez dos relógios
dependurados e escorregando mostram uma preocupação
humana, com o tempo e a memória. O próprio
Dali está presente, na forma da cabeça
adormecida que já apareceu em outros quadros.

Todos
os objetos na sua obra adquiriram um carácter
simbólico, como os relógios moles, que
segundo ele aludem à sua personalidade "suave"
A
paisagem de fundo lembra o Port Lligat, próximo
de Figueres, onde Dalí nasceu e viveu. Segundo
ele, a idéia do quadro ocorreu e como a paisagem
já estava pronta, levou apenas 2 horas para realizá-lo.
Quando Gala, voltou do cinema e viu o quadro, previu
que quem visse este quadro jamais o esqueceria.
A
imagem do Tempo do homem antigo para nós evoluiu
da sua associação com fenômenos
humanos, e/ou naturais, para a sincronização
das atividades humanas, sobretudo as produtivas. Não
podemos jamais nos esquecer que a vida da maioria dos
seres humanos hoje é regida por “horários”
fixos “medidos” pelos relógios, e
calculando-se em cima disso a lucratividade e a produtividade
das tarefas empreendidas. Esta mudança está
intimamente relacionada às alterações
nos modos de produção do homem e de sua
relação com o meio.
Para
Kant o homem possuí dois níveis de percepção,
ou sensibilidade: um externo e outro interno. O externo
seria composto pela nossa noção de espaço,
ou seja, de localidade, de deslocamento; o interno por
sua vez seria composto pela nossa percepção
de tempo, que completaria a primeira dimensão
da sensibilidade. Para Norbert Elias o Tempo não
seria nada além da sincronização
das atividades humanas.

Fontes
:
Revista Museu, Sheila Kaplan, Danny Zangrossi, Klepsidra,
Rainha da Paz, Forbes
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