"Las
Meninas"
O
quadro universalmente conhecido como “Las Meninas”,
embora o título original fosse “A família
do rei”, é um dos quadros que mais tinta
fez correr na história da arte. Houve pintores
(Picasso, por exemplo) que não cessaram de o
reproduzir, como se quisessem extrair dele um segredo
qualquer que teimasse em permanecer velado. É
uma obra prima que tende, obstinadamente, - parafraseando
Balzac - a permanecer desconhecida. É um quadro
que faz falar, que faz escrever, ao mesmo tempo que
se mantém num silêncio irredutível.
Velásquez,
pintor da corte espanhola do século XVII, foi
um dos maiores artistas de todos os tempos.
Filho
de um advogado de nobre ascendência portuguesa,
foi um artista tecnicamente formidável, e na
opinião de muitos críticos de arte, insuperável
pintor de retratos. Foi discípulo, e genro, de
Francisco Pacheco (1564-1654) - pintor, filósofo,
poeta e teórico de arte.
No
trono espanhol, é Felipe IV, um medíocre,
quem sucede uma longa fila de reis brilhantes, encabeçada
pelo imperador Carlos V e por Felipe II. A Espanha encontra-se
já em decadência. O ouro e a prata, trazidos
pelos galeões espanhóis após as
conquistas feitas por Cortés e Pizarro nas Américas,
além de gerar uma grande inflação
dos preços, espalhou-se pela Europa em disperdícios
inúteis. O Império de Carlos V, onde "O
Sol nunca se punha", virara numa lenda.
As
tentativas de conquista da Inglaterra, ou pelo menos
as tentativas de alija-la do mercado internacional,
haviam sido inúteis. A Inglaterra e a Holanda
solidificavam suas posições de serem senhoras
dos Oceanos, através de uma série de batalhas
navais bem sucedidas. A Revolução Puritana
nas Ilhas Britânicas (1642-1649), destronara e
decapitara Carlos I. A nova ordem foi imposta ditatorialmente
pelo puritano Cromwell que assumia o controle completo
do país e o dotava de forte poder marítimo.
Felipe IV com 23 anos, jovem empoado e sem expressão
política, assiste a Velásquez que compõe
"Los borachos". O realismo quase que fotográfico
de Velásquez é a moda. O pintor, que conta
agora com 29 anos, chega á fama. O rei é
o seu principal cliente, dotando-o com pensão
e uma sortida biblioteca.
A liberdade do artista, que estando a serviço
do rei escapa da censura e das exigências eclesiásticas,
enseja a produção de obras-primas. O paroxismo
está formado. Era preciso estar a serviço
do poder para ter-se liberdade criativa. “A Rendição
de Breda”, ato de rendição da cidade
holandesa frente aos fidalgos de Espanha, é um
fantasma das glórias passadas da corte do Escorial.
Tal
como Cervantes intuíra, a decadência da
cavalaria implicava por igual na decadência espanhola.
A importância, o status cortesão de Velásquez
é tal, que comete a ousadia de retratar-se juntamente
com o rei e figuras secundárias.
Em 1956 Velásquez pinta “Las Meninas”,
uma das obras mais emblemáticas da cultura européia
frequentemente citada e analisada até nossos
dias e que continua a ser objeto de estudos e controvérsias.
A confrontação das interpretações
não permite uma conclusão definitiva a
respeito do quadro, porém, abre uma nova forma
de olhar e analisar o enigma de "Las Meninas"
como uma representação que se desdobra
no tempo, ou melhor, como uma fissura no tempo linear
da representação, sendo impossível
que a cena como a conhecemos tenha ocorrido a um só
tempo.
"La
Familia do rei" ou "Las Meninas"
Óleo sobre lienzo: 3,18 x 2,76 mts.
A
cena transcorre dentro de uma estância do Alcázar
de Madrid, decorada com uma série de quadros.
Os personagens se agrupam em um primeiro plano juntamente
com a figura principal, a infanta Margarita, que ocupa
a parte central do grupo; a seu lado, Isabel Velasco
e Agustina Sarmiento - las "meninas" -; junto
a esta última os irmãos María Bárbola
e Nicolás Pertusato com um mastín a seus
pés.
Atrás
deles, na penumbra, aparecem Marcela de Ulloa e um cavaleiro
que não se pode identificar. Na esquerda se encontra
a figura de Velázquez com seus instrumentos de
trabalho em frente de um grande lenço que ocupa
todo o ângulo do quadro.
No
seminário "O Objeto da psicanálise",
Lacan comenta longamente esse quadro de Velasquez, e
o apoio que ele encontra na perspectiva e na geometria
projetiva que lhe permite pensar o olhar como sendo
o resultado de uma construção e não
como uma simples fisiologia, quer dizer, como fundamentalmente
distinto da visão.
No
fundo da habitação, junto a uma porta
aberta, se encontra don José Nieto de Velázquez,
aposentador da rainha, que é o centro perspectivo
da obra. Ao fundo um espelho onde aparecem refletidas
as figuras dos reis Felipe IV e Mariana da Áustria.
A
tela foi salva de um incêndio que atingiu o palácio
real, em 1750, e passou ao Museu do Prado, em 1819,
onde recebeu o título de “Las Meninas”.
A obra está hoje no Museu do Prado.
O
grande pintor faleceu aos 60 anos de idade no dia 6
de agosto de 1660. Um dos mais festejados artistas espanhóis
de todos os tempos.

Fontes
: Voltaire Schilling, Association Lacanienne Internationale,
Ricardo Coelho, Forum de Psicanálise, Sonho e
Criatividade, Wikipedia |